“Tanto a tribuna quanto essa decisão foram feitas após conversar com camaradas do PCB-RR de todo o país, do Nordeste ao Sul do Brasil. Muitos estão insatisfeitos com os delegados natos e com as instâncias superiores num geral. Desejo toda sorte do mundo pra essus camaradas que querem construir um verdadeiro partido comunista.”
Silco
02/01/2024
Camaradas, como muitos devem saber, publiquei uma tribuna sobre delegados natos, na qual trago os argumentos que me levam a crer que há golpe dos dirigentes para permitir tal instrumento, mesmo sendo contra o Regimento do XVII Congresso (https://www.educacaorevolucionaria.com/post/silco-golpe-dos-dirigentes-delegados-natos).
Em reunião recente de minha célula, foi decidido por maioria de votos que eu deveria me retratar publicamente quanto aos seguintes pontos da tribuna: agitação para desrespeitar o congresso; acusação de golpe dos dirigentes.
Ao questionar, na reunião, como eu redigiria tal retratação se não estou convencido do contrário, me foi respondido que isso é “centralismo democrático” e que a retratação poderia ser feita no mesmo estilo que, como foi dito por membro da célula, as retratações públicas feitas em redes sociais após determinação judicial em casos de racismo. Tem horas que, como também foi dito na reunião, temos que nos submeter.
Eu não considero isso razoável nem centralismo democrático. Centralismo democrático não é imposição de linha de pensamento, de convencimento a todo custo, de fazer retratação meramente proforma. Uma retratação ou autocrítica só tem real valor se forem honestas, se quem as faz acredita que errou. Uma retratação desse tipo, ser forçado a fazê-la contra sua vontade, nada mais é do que pura e simples coerção e humilhação do militante.
Vale lembrar que a autocrítica (por que teve o erro?; qual a origem do erro?; como consertar o erro?) não é meramente individual, mas também coletiva. Se a célula e o PCB-RR acham que eu errei, isso também ocorreu por causa de certas atitudes e falta de comunicação por parte deles. Em momento algum percebi que há interesse da célula ou do partido em fazer tal autocrítica.
Ao conversar com uma camarada sobre a reunião, ela fez uma observação muito boa sobre a autocrítica:
Essa reunião foi o balanço de todo o desfecho do entendimento da situação, concluindo – coletivamente – que minhas ações “foram erradas”, que “tem que esperar o congresso para mudar isso” e “é necessário trocar o SecOrg para consertar isso e exigir a retratação do indivíduo para continuar militante”.
Segundo ela, não faria sentido para minha célula fazer autocrítica sobre o porquê de eu ter tomado tal atitude. Não chamam o balanço de autocrítica poque a responsabilidade não é coletiva quando não convém para a hegemonia e então preferem chamar essa coerção (retratação) de autocrítica porque individualiza a autocrítica em um militante específico.
Os dirigentes do PCB-RR não sabem lidar com espontaneidade e por isso só têm repulsa disso e "disciplinam" na base da coerção, e a base jamais aceitaria tais pessoas como liderança, tendo pavor de controladores. Eles não sabem lidar com o mínimo de adversidades.
Ainda segundo ela, se a pessoa organizada percebe algo de errado, obviamente ela começará a tomar essas iniciativas mais individuais, isso deve ser visto como questão coletiva e não como individual [nota minha: afinal, tais atitudes não surgem do nada, ocorrem por sentir falta de confiança ou outro tipo de incerteza quanto à organização]. É necessário analisar o porquê de um SecOrg ter tomado essa postura, podendo perder até o cargo (que eles supervalorizam), por exemplo, mas eles não pensam nada além da manutenção de sua hegemonia.
Essa postura, a concepção estranha de espontaneísmo, autocrítica, leitura mecânica, limitada e até distorcida são todos interligados.
Voltando.
Em momento algum da reunião se questionaram de fato o porquê de eu ter tomado tal atitude, o porquê de ter me sentido forçado a publicar por fora minha tribuna, fazendo as acusações que fiz (e a quais não retiro). Nunca se questionaram quanto aos erros do PCB-RR que me levaram a isso. Nunca tentaram, de fato, entender.
Nem passou, aparentemente, pela cabeça deles que a urgência da questão se dá pelo fato de a etapa de base do Congresso ter só até o final de janeiro. Até quando deveria ter esperado novas respostas? Até quando deveria ter esperado assistências de CL, CR e CNP virem falar comigo, após terem sido avisados de que queria falar com eles sobre o assunto? Até quando deveria esperar o EDC entrar em contato para, eventualmente, pedir que fizesse certas alterações na tribuna para que fosse publicada? Uma semana? Duas? Um mês? Até o fim do Congresso?
Nunca recebi qualquer comunicação sobre isso. O EDC só me enviou um e-mail afirmando ter recebido a tribuna. As assistências nunca mandaram nenhuma comunicação, nem um mero “não podemos agora por causa do período do ano, mas podemos marcar pra data tal”. Simplesmente não foi dado nenhum sinal de vida.
A tentativa constante e insistente de convencimento do outro também pode abrir espaço para assédio do camarada que se encontra como voto vencido. O convencimento forçado não é um convencimento real, não tem um valor verdadeiro. Tentar forçar um militante, seja qual for o motivo, a escrever uma retratação falsa em seu espírito para passar a ilusão de unidade artificial, atropelando as convicções desse camarada, não é centralismo democrático, não é camaradagem, não é leninista. É coerção e humilhação do militante, mesmo que a retratação em si não seja no tom de autoimolação.
Uma coisa é uma votação decidir pela retirada de um camarada de um cargo (o que ocorreu e ao que não me oponho). Outra, bem diferente, é se votar – e aprovar – a retratação do camarada quando ele não concorda com ela.
Se a célula, o PCB-RR ou o EDC entendem que há críticas a serem feitas, que as façam, que deem uma resposta à tribuna em vez de forçar um camarada a se retratar – mesmo quando ele entende que não há nada pelo qual se retratar – por meio de retratação meramente proforma, para que, ao final, a crítica inicialmente feita perca força e credibilidade.
Com um entendimento tão torpe, tão viciado do que é centralismo democrático – ainda, creio, por influência de vícios do PCB-CC –, não creio que o PCB-RR nem suas instâncias superiores têm de fato o potencial revolucionário necessário neste momento.
Se fizesse uma retratação de forma forçada, coagida, não seria honesto de minha parte. Não atenderia, de fato, princípios comunistas.
Aceito, via de regra, me submeter a decisões das quais discordo por ser marxista-leninista, mas submissão, dentro desse campo, não é algo cego ou impensado.
Por tais motivos, declaro que me desligo do PCB-RR. Continuarei minha militância por meio de meu coletivo, o Educação Revolucionária, e, quem sabe no futuro, entre em outra organização.
Tanto a tribuna quanto essa decisão foram feitas após conversar com camaradas do PCB-RR de todo o país, do Nordeste ao Sul do Brasil. Muitos estão insatisfeitos com os delegados natos e com as instâncias superiores num geral. Desejo toda sorte do mundo pra essus camaradas que querem construir um verdadeiro partido comunista.
Saudações comunistas,
Camarada Silco