João Luca Leite 27 de novembro de 2022
Jogadores do Corinthians durante amistoso contra o Palmeiras, em 1945, no estádio do Pacaembu para arrecadar fundos ao Partido Comunista Brasileiro - Domínio Público
Na última quinta-feira (24/11/2022), o Brasil estreiou na Copa do Mundo no Qatar contra a Sérvia, tendo vencido de 2x0. Os dois gols foram marcados por Richarlison, um dos jogadores mais politizados da seleção tendo sua posição política abertamente progressista.
Após o jogo, fez-se um debate no Brasil todo, e a conclusão da esmagadora maioria da direita concluiu: Futebol e política não se misturam. Entretanto, qual o cerne deste argumento? O que a direita argumenta sobre essa afirmação? Vimos, durante as eleições, o posicionamento de um dos mais destacados na seleção, Neymar Jr. Com uma posição aberta em favor da reeleição do futuro ex-presidente Jair Bolsonaro.
Neymar foi extremamente critícado pela esquerda — "esquerda" de uma maneira mais abrangente, reformistas ou progressistas. —, contudo, em sua maioria, as críticas foram ao posicionamento do jogador de apoiar abertamente um candidato fascista, e não uma crítica ao fato dele expressar abertamente sua posição.
A direita, entretanto, desce ódio a Richarlison por ser um jogador que se expressa politicamente. O fato de Neymar, jogador extremamente extremamente popular, se posicionar politicamente (e em a favor deles), não os incômoda.
A direita se incomoda com um posicionamento contrário a eles vindo de figuras populares.
Dizer que futebol e política não se misturam é uma contradição por si só. De uma ignorância verossímil. Tal afirmação só pode ser proferida por pessoas que não sabem o que é política. "O homem por si só é um animal político", afirmava Aristóteles. Tudo que nos envolve é política. Tudo são relações sociais, tudo interfere na pólis (¹), tudo interfere na sociedade.
Futebol e política não se misturam porque o futebol é um fenômeno social que faz com que as pessoas ajam, pensem e sintam coletivamente. A direita odeia o coletivo, porque a classe dominante odeia qualquer tipo de manifestação social.
O capitalismo no século XXI é o capitalismo neoliberal, individualista. O objetivo da classe dominante é individualizar cada vez mais os trabalhadores, deixá-los os mais distantes possíveis uns dos outros e vendê-los cada vez mais o discurso de que o seu sucesso depende único e exclusivamente de você mesmo. Individualizar a classe e demonizar qualquer tipo de manifestação coletiva é estratégia para manter o sistema, estratégia para evitar que os trabalhadores conversem sobre política e organizem-se politicamente para agir contra o sistema.
O futebol surgiu no século XIX e desde então vem crescendo e hoje é considerado o esporte mais popular do mundo. Os jogos lotam estádios de mais de 100 mil pessoas, todas torcendo e se sentindo parte de uma identidade. A classe trabalhadora tem torcida, a classe trabalhadora torce, a classe trabalhadora tem posição política, e a classe vai conversar sobre política. É conveniente para a classe dominante tentar desligar futebol da política, para evitar que os trabalhadores conversem sobre, e se revoltem.
Notas:
[¹] Polís: Comunidade cujo governo era desenvolvido pelos próprios cidadãos (homens livres, em grego: politikos), separando claramente o espaço público, do privado; regida por normas gerais, preceitos e um poder por eles guiado, realizava comércio com outras cidades, durante a Antiguidade Grega (século VIII, a.C.): Pólis Grega. Cidade ou comunidade independente em que o governo é exercido por seus membros ou cidadãos livres; cidade-estado. (dicio.com.br)
Lacrou