“Venho a público comunicar meu desligamento do PCR, acredito que as questões que coloquei possam contribuir para o movimento comunista como um todo.”
Por João Lucas Leite 'Samurai'
02/01/2024
“Nota de abertura: Quero fazer um pequeno agradecimento ao coletivo Educação Revolucionária que ajudei a construir e milito desde que comecei a me inserir no estudo do marxismo-leninismo e que hoje me possibilita divulgar essa carta que julgo importante para mim quanto para os comunistas em geral.”
Introdução
Camaradas, venho a público comunicar meu desligamento do complexo partidário do PCR/UP e da juventude a qual pertenci 1 ano e 2 meses, a União da Juventude Rebelião(UJR). Era militante da UJR-CE, comecei minha militância partidária em outubro de 2022 depois que comecei a ter aproximações com o marxismo por via das leituras que fazia de Marx e pela influência do trabalho de propaganda(muito bem feito, por sinal) do coletivo Soberana.
Primeiro gostaria de pontuar o porquê decidi fazer o anúncio do meu desligamento publicamente e não simplesmente enviar essa carta para as dirigências do partido organizarem o debate internamente entre a militância pensando em analisar as críticas e pensar na superação das contradições apontadas. A resposta é curta e simples: porque isso não aconteceria. O debate interno é mitigado dentro da organização, quando tentei levar alguns debates que eu como militante estava desenvolvendo, algumas dirigências me rebateram afirmando que não existem instrumentos para que os debates circulem por toda a militância, enfim, minha carta no mais tangente iria cair no esquecimento e os apontamentos que aqui faço não seriam socializados pela militância que, por isso, não poderia pensar em formas de superar suas contradições.
Para além disso, acredito que as questões que aqui irei colocar possam contribuir de alguma forma para o movimento comunista como um todo, para desenvolver um debate sobre a influência do dimitrovismo no movimento comunista brasileiro e internacional, o papel da polêmica e do debate público para a construção de uma verdadeira unidade de ação duradoura, a questão da identidade que assumimos enquanto partido comunista(cosplay de bolchevismo), o dogmatismo na concepção teórica marxista e o etapismo democrático no movimento comunista.
Nesses tempo que militei na UJR pude experienciar diversas tarefas/atividades envolvendo o trabalho político e me desenvolvi enquanto um militante comunista, entretanto, meus estudos individuais dos clássicos do marxismo me fizeram começar a ter discordâncias profundas com a linha política adotada pela UJR e por todos os movimentos associados. Confesso um crime: andei lendo muito Marx, Engels e Lênin. Na minha concepção, a linha política do PCR/UP carrega hoje diversos desvios anti-marxistas e anti-leninistas influenciados pelo dogmatismo da linha “hoxhaista”, a antiga concepção anti-leninista de partido monolítico e o dimitrovismo na estratégia, questões que pretendo elaborar no decorrer da carta. Isso se deve principalmente pela linha política ser em muitas partes herdadas de desvios surgidos no PCUS, das influências do sétimo congresso da IC e da antiga Albânia socialista e individualmente da figura de Enver Hoxha(Figura muito polêmica que eu pessoalmente admiro muito por seu papel histórico, mas a maior parte de suas contribuições sobre organização, leninismo, etc. são extremamente dogmáticas.)
Pensei muito em não me desligar e ficar para tentar disputar a linha do partido, mas sinceramente, acredito que seja um caso perdido, pois minhas discordâncias com a linha que é atualmente dominante no partido são profundas, e toda a estrutura partidária existe para realizar a manutenção desse programa. Dentro da organização não há espaço para disputa, para luta interna, para dialética.
Enfim, começarei então a expor minhas discordâncias e os motivos pelos quais estou me desligando.
Centralismo — “democrático”
O partido adota como forma organizativa o centralismo-democratico, entretanto, a forma como o centralismo-democrático é enxergado dentro do partido é demasiado equivocado.
Diferentemente da posição de Lênin, o partido adota uma concepção de centralismo-democrático herdado do PCUS no período Stálin, o partido “monolítico”, e da concepção albanesa, o chamado “hoxhaísmo”. O centralismo-democrático pregado dentro do partido não é a “liberdade de criticar e unidade de ação” como Lênin coloca, e sim uma concepção equivocada de monolitismo teórico. A concepção de que no partido, além de existir uma unidade de ação, deve existir também uma unidade teórica mecânica, uma linha “oficial” do partido que deve ser seguido por todos e que só pode ser contestada durante congresso, pois se alguma crítica feita a essa linha oficial for feita em público geraria descoesão e “destruiria a unidade”.
Com certeza vemos em Lênin que só pode haver unidade de ação, se há unidade ideológica sobre uma determinada ação. Mas em Lênin esse processo é dialético, isto é, defende que a unidade sobre uma questão só é conquistada a partir da plena liberdade de crítica e polêmica pública por parte das alas ideológicas que se formam sobre uma questão, e nesse processo dialético, a partir do embate entre os diferentes pontos de vista, podemos construir uma síntese, uma unidade ideológica sobre uma polêmica, que dá lugar a unidade de ação, a verdadeira unidade duradoura. Já para o PCR, a noção é que a linha dura é um “marxismo-leninismo” em abstrato, e construir a unidade de ação não seria florescer o debate e a polêmica pública sobre ele com todos os pontos de vista e tendo a plena liberdade de criticar, mas forçar a todos a se submeterem a um ponto de vista que é entendido como “o marxista-leninista”.
Camaradas, dentro do partido bolchevique estavam presentes Kamenev, Bukharin, Stálin, Zinoviev, e depois até Trotsky, figuras que tinham visões diferentes sobre temas fundamentais na luta de classes, divergências táticas, teóricas, mas a unidade de ação na estratégia era mantida. Não precisamos de robôs que pensam iguais sobre todos os temas para se ter unidade de ação. monolitismo teórico é simplesmente anti-leninismo e impede o processo dialético de polêmicas e debates, a única forma de se conseguir unidade real.
Mas em no partido a crítica só deve ser feita nos espaços do partido, ou seja, em reuniões de núcleo fechadas entre militantes nos quais os acúmulos e reflexões feitas a partir de tal crítica não serão socializados entre toda a militância e muito menos entre a classe trabalhadora.
As críticas não são socializadas, o conjunto da militância não fica sabendo dos debates que estão ocorrendo em outros núcleos, as críticas que estão sendo feitas. O centralismo-democrático da organização não é democrático, ele é apenas a expressão de um dogmatismo(a concepção de unidade teórica) e de formalismo(você pode criticar, mas somente em suas reuniões de núcleo ou através de cartas para dirigentes).
O debate, a reflexão, a crítica, não são instigados entre a militância. Não há estrutura para que possamos debater entre a militância as questões do partido. A militância não é incentivada a fazer algum tipo de contribuição teórica a um ou outro debate, pelo contrário, o que o partido faz muitas vezes é desrecomendar a leitura de um ou outro autor que não fazem parte do “marxismo oficial”(o marxismo da União Soviética no período Stálin) e as únicas leituras recomendadas são Marx, Engels, Lênin e Stálin.(Quando muito, alguns outros autores são trabalhados como Amilcar Cabral, Krupskaya, Álvaro Cunhal… Mas no geral, a formação teórica do partido (quando existe) segue a linha somente do marxismo-leninismo “oficial”, o marxismo-leninismo da União Soviética do período Stálin, com ênfase muito maior nas obras de Stálin, Hoxha, Dimitrov e outros quadros do politburo do PCUS do que no tripé fundamental do marxismo-leninismo: Marx, Engels e Lênin.
No geral, a maioria dos militantes não constroem o partido, apenas cumprem tarefas. Não existe debate teórico, apenas a linha oficial do “marxismo-leninismo”, que eu, apesar de ser um defensor convicto do legado de Stálin(reconhecendo seus diversos erros), não vejo outra forma de classificar senão como stalinismo. A concepção de centralismo-democrático da organização é uma concepção dogmática e antileninista. O centralismo-democrático de Lênin e sua concepção sobre a liberdade de crítica é:
“O princípio do centralismo democrático e da autonomia das organizações partidárias locais implica uma liberdade universal e plena de crítica, desde que isso não perturbe a unidade de uma ação definida; exclui todas as críticas que perturbem ou dificultem a unidade de uma ação decidida pelo Partido.”(1)
O monolitismo teórico, a concepção de um partido monolítico na linha, não é só anti-leninista como é também anti-marxista, pois renega a dialética, é uma interpretação dogmática do centralismo-democrático de Lênin. A liberdade de crítica prevê a construção dialética do partido, o embate dos opostos, as discussões e os debates públicos. Ser contra essa construção dialética do partido e assumir uma concepção de um partido monolítico, que só tem uma concepção e essa deve ser a concepção passada por todos os membros do partido em público é profundamente anti dialética. Uma noção de “unidade” performática, de que precisamos parecer para os de fora como uma caixa sem divergências, sem polêmicas. Irônico que todas as organizações carregam seus debates, a luta interna, as polêmicas, mas nós não, nós somos “unidos” em tudo!
Não existe liberdade de crítica no PCR
Como já expus, o florescimento da crítica interna é algo suprimido estruturalmente, entretanto o problema vai mais além. Pois no partido não há espaço para a disputa interna da linha política pois o partido renega com unhas e dentes a polêmica pública(outra concepção anti-leninista).
A polêmica pública é necessária para o desenvolvimento de nossa linha, do programa e da estratégia, mas reconheço que nem todo debate necessariamente é público. Por exemplo, se debatemos sobre questões táticas ilegais para o estado burguês, como a insurreição, isso seria um debate sobre estratégia militar e estaríamos tendo enquanto um braço militar da classe do que como luta interna.as Mas o PCR/UP, em todo caso acredita que a polêmica pública, no lugar de nos dar a unidade, só irá “fragilizar” o partido e gerar “descoesão”(???), em suma, a linha do PCR/UP é de não expor os erros do partido, não assumi-los. Classificam a crítica pública, o debate público, como “autofagia”.
“A atitude de um partido político diante de seus erros é um dos critérios mais importantes e seguros para a apreciação da seriedade desse partido e do cumprimento efetivo de seus deveres para com a sua classe e as massas trabalhadoras. Reconhecer francamente os erros, pôr a nu as suas causas, analisar a situação que os originou e discutir cuidadosamente os meios de corrigi-los é, o que caracteriza um partido sério; nisso consiste o cumprimento de seus deveres; isso significa-- educar e instruir a classe e, depois, as massas. Ao não cumprir esse dever nem estudar com toda a atenção, zelo e prudência necessários seu erro evidente, os "esquerdistas" da Alemanha (e da Holanda) demonstram exatamente que não são o partido da classe, e sim um círculo; que não são o partido das massas e sim um grupo de intelectuais e de um reduzido número de operários que imitam os piores aspectos dos intelectualóides.” — Vladimir Lênin (os grifes são meus) (2)
E vemos aqui como o PCR escolhe ser um "círculo”, um “grupo de ‘intelectuais’” , que não pode ser o partido da classe justamente por não estar disposto a elevar à polêmica pública sobre seus erros, realizar a máxima autocrítica sobre seus erros, demonstrar para a classe seu compromisso em reconhecer suas contradições e superá-las.
Isso não poderia estar mais longe do centralismo-democrático de Lênin, a penúltima citação que utilizei explicita muito bem isso. “liberdade universal e plena de crítica, desde que isso não perturbe a unidade de uma ação definida”, ou seja, os camaradas do partido devem estar livres para discordar de TODAS(“universal e plena”) as decisões desde que isso não perturbe a unidade de ação. Para exemplificar isso, ninguém melhor do o que o próprio Lênin:
“Vamos dar um exemplo. O Congresso decidiu que o partido deveria participar nas eleições da Duma. Participar de eleições é uma ação bem definida. Durante as eleições (como em Baku hoje, por exemplo), nenhum membro do Partido, em nenhum lugar, tem qualquer direito, seja qual for, para convocar o povo a se abster de votar; tampouco a “crítica” da decisão de participar das eleições pode ser tolerada durante esse período, pois de fato comprometeria o sucesso da campanha eleitoral. Antes de as eleições terem sido anunciadas, no entanto, os membros do Partido em todos os lugares têm o perfeito direito de criticar a decisão de participar nas eleições. Naturalmente, a aplicação deste princípio na prática, por vezes, dará origem a disputas e mal-entendidos; mas somente com base neste princípio todas as disputas e todos os mal-entendidos podem ser decididos de maneira honrada para o Partido. A resolução do Comitê Central, no entanto, cria uma situação impossível.”(3)
Para além disso, Lênin defende que a crítica deva ser pública, e no mesmo texto reclama do fato da resolução do Comitê Central do partido não ter sido debatida publicamente antes de ser publicada:
“Pensamos que o Comitê Central cometeu um grande erro ao publicar uma resolução sobre essa importante questão sem antes discuti-la na imprensa do Partido e nas organizações do Partido; tal discussão teria ajudado a evitar os erros que indicamos.”(4)(os grifes são meus)
Em outro texto, Lênin parece responder a linha do PCR/UP da crítica ser apenas interna(quando é, pois já expus que isso é desestimulado) e de renegar a polêmica pública, manter as críticas somente em reuniões do partido e por cartas a dirigentes(Como a camarada presidente estadual da UP Ceará, a qual eu admiro muito, uma vez me instruiu tentando demonstrar “como existe liberdade de crítica no partido porque existe espaço nas reuniões para criticar e podemos enviar cartas aos dirigentes”). Vamos com a citação de Lênin:
“Mas em sua carta, também há aquela tendência (nociva e, em minha opinião, totalmente reacionária), a tendência de separar o movimento operário da social-democracia e da luta política revolucionária – de protelar as tarefas políticas, de substituir o conceito de “Luta política” pelo conceito de “Luta por direitos legais” e assim por diante. Como traça a linha que diferencia a tendência saudável e útil da nociva? Eu acredito que não haja necessidade de persuadir você, que já experimentou as “reuniões no exterior”, de que não podemos nos restringir a simples conversa. E não seria ridículo temer a análise da questão na imprensa, já que já foi discutida por muito tempo em cartas e debates? Por que os debates nas reuniões e cartas são considerados permitidos e a elucidação das questões polêmicas na imprensa é considerada “a coisa mais nociva, capaz apenas (???) de divertir nossos inimigos?” É isso que eu não consigo entender. Só as polêmicas na imprensa podem estabelecer precisamente a linha divisória a que me refiro, porque algumas pessoas frequentemente se mantêm inclinadas a ir aos extremos. É claro que a luta na imprensa vai causar mais mal-estar e nos dar algumas boas porradas, mas não somos tão frágeis assim para ter medo de levar porrada! Desejar uma luta sem porradas, diferenças sem luta, seria o cúmulo da ingenuidade, e se a luta for travada abertamente, será cem vezes melhor que o “gubarevismo” estrangeiro e russo, e levará, eu repito, cem vezes mais rápido a unidade duradoura.”(5)
Lênin perguntou, agora eu pergunto, por que os debates são permitidos nas reuniões e por cartas mas o debate na imprensa, o debate público(até no próprio jornal do partido, onde uma dirigente me disse que não é o espaço para haver debates e exposição de divergências), é considerado algo que vai prejudicar a organização? Como Lênin bem disse, e eu gosto de repetir para elucidar para os camaradas que tem a concepção dogmática de centralismo-democrático herdada de Enver Hoxha, somente o debate público, aberto, vão resolver as divergências internas entre os membros do partido e fazer caminhar a construção de uma organização marxista-leninista séria. Somente com o debate público todo o conjunto da militância pode ter acesso a todas as contribuições e acúmulos feitos por uns e outros camaradas, somente o debate público pode esclarecer qual linha está correta e qual está errada a partir do confronto dessas ideias(Afinal, “haveremos de vencer porque temos razão”, não é essa a frase repetida por diversos militantes comunistas ao redor do mundo?
Camaradas, essa ideia de centralismo teórico, unidade teórica, de renegar a crítica pública está errada de ponta a ponto, e quem diz isso é um certo advogado russo e não eu.
A unidade de ação, da qual nós buscamos conseguir, só pode ser atingida através do debate público, da luta interna, e que os acúmulos dessa luta interna sejam de conhecimento de toda a militância e da classe para que possamos atingir uma unidade orgânica, e não imposta. Pois o que ocorre no PCR hoje é uma unidade de ação inorgânica, imposta, a qual as resoluções e o programa são colocados como linha oficial a ser seguida e tudo que discordar minimamente disso é descentralização. A unidade é imposta de cima para baixo, mas isso desenvolverei nos capítulos mais a frente quando começar a falar sobre burocratismo.
Negar a polêmica pública, o debate público, aberto e franco, é esconder nossos erros da classe trabalhadora, é enganá-los. É impedir que eles possam participar das discussões que ocorrem no partido, se nem mesmo os militantes participam pois a crítica não é socializada. Como iremos conseguir nos consolidar como vanguarda da classe se a classe não confia em nós? Se nós não expomos nossos erros e dizemos “Erramos, e estamos dispostos a trabalhar arduamente para melhorar”? Temos medo de expor o nosso programa político para a classe? Isso não é desonesto?
Isso não é “autofagia”, camaradas. Isso não nos enfraquece. Lênin mostrou como o debate público irá fazer com que alcancemos “cem vezes mais rápido a unidade duradoura”, mas para além das cartas, fez isso constantemente na prática (mesmo na ilegalidade do partido!). Entender o caráter político do debate público é essencial para que possamos construir um movimento revolucionário sério, comprometido com a revolução brasileira, para que o conhecimento seja socializado, para que a unidade de ação seja orgânica.
Se não houver espaço para crítica e o debate público, sabe o que acontecerá, camaradas? Nós vimos bem durante o racha do PCB. A fração pequeno-burguesa que dominava as instâncias da direção reprimiu o debate público, a polêmica pública, e utilizou de manobras políticas para censurar quem discordava(em outras palavras, destruiu a liberdade de crítica), o que aconteceu foi que as bases racharam com as direções pois não tem como combater uma fração na direção sem outra fração e agora compõem uma fração que está construindo um novo partido. Lembremos do POSDR, com mencheviques na direção atuando como uma fração, quebrando com o estatuto e censurando a crítica, só foi possível combatê-los com a formação de uma outra. É isso que acontece quando não existem espaços de disputa e debate interno no partido. É isso que acontece quando barramos a polêmica, ela ocorre no subsolo, florescem as tendências que logo se formaram enquanto frações.
O encastelamento da “vanguarda”: burocratismo
Esse vai ser o destino do PCR? Não tenho certeza, mas o que vejo no partido é uma burocracia encastelada juntamente com essa falsa concepção de “partido de vanguarda” e “partido de massas”, mas também com a forma de partido “ilegal”(não entendo o motivo de se ter um partido ilegal nas condições históricas em que vivemos, parece uma performace de guerra civil).
Vou me ater principalmente ao partido de vanguarda, o PCR, que sinceramente a melhor forma de definir é como uma burocracia encastelada, que justifica esse encastelamento por uma falsa necessidade de se comportar enquanto partido ilegal, que não condiz com a realidade da luta de classes em nosso pais. Tão encastelada que nem eu, que fui militante da juventude do PCR por mais de um ano, sei quem são os membros do Comitê Central do partido, quem são seus dirigentes estaduais, nem mesmo sei quem da UP e dos outros “movimentos de massas” pertencem ao PCR.
O PCR é uma burocracia encastelada, não se sabe quem são seus representantes, não há espaço para debater, os membros se refugiam em um castelo e ficam falando sobre serem a vanguarda das massas. Um verdadeiro clube de “intelectuais” superestimados! A noção de vanguarda do PCR é tudo menos leninista, porque ao invés de se entender enquanto um instrumento político que busca nas massas seus quadros mais desenvolvidos e realiza uma troca constante entre ela, se coloca enquanto um “estado-maior”, ou seja, se coloca acima das massas, como se fossem os seus “chefes” de classe.
Como eu disse um castelo de burocratismo. O PCR é uma burocracia encastelada que não quer disputar a consciência das massas e guiá-las, acredita que seu lugar é acima das massas para mandar e desmandar sobre sua luta, assim como fazem com o seu “partido de massas”, a UP.
Eu mesmo levei muito tempo para compreender isso, pois isso não é debatido. Depois de muito perguntar me deram uma resposta. Irei transcrever essa resposta feita por uma dirigente estadual da UP cujo nome não irei expor. A resposta veio após eu ter enviado uma carta às dirigências a respeito da nomenclatura adotada pela UP de “o partido antifascista do Brasil”, cujo conteúdo irei expor nos próximos capítulos pois também é um dos motivos do meu desligamento.
“Compa — termo utilizado para se referir a “companheiro” —, uma coisa que tem que esclarecer é que tem uma diferença entre a Unidade Popular e o Pão Com Requeijão — Sim, isso para não se referir ao PCR por um áudio de whatsapp por questões de “segurança”, afinal, as atuais condições políticas só podem demandar tamanha inquietação e eu ainda não percebi! — Enfim, camarada, nós quando adotamos essa nomenclatura -inclusive ela foi decidida coletivamente, você sabe, né-, colocar que tem que levar em consideração que a Unidade Popular é um partido de massas, é um partido que foi construído para que a gente conseguisse ter um contato mais direto com as massas, com a classe trabalhadora, com os estudantes… Colocar essa nomenclatura isso se faz porquê a atual conjuntura permite que a gente faça isso, né. De se colocar como um partido como eu falei de massas. Quando você fala dessa questão de deixar de lado as pautas comunistas, não, a gente não deixou de lado. Até porque, como você não conhece por exemplo o Pão Com Requeijão[PCR], faz com que gere essas dúvidas né — Isso deveria alarmar qualquer militante, como não podemos conhecer o nosso próprio partido??? —. Ai tem estratégias , tem táticas né, quando a gente se coloca como um partido antifascista, que faz essas denuncias, do que é o Pão Com Requeijão por exemplo. Há uma diferença que como você não conhece ainda, né, a gente não tem deixado de reivindicar essas pautas, inclusive, se duvidar o único mesmo que fala de socialismo, que você colocou no texto. Mas tem uma diferença do caráter político. Diferença assim, eu falo no sentido de quê, porque basicamente não há diferença da Unidade Popular para o Pão Com Requeijão, mas claro, há essa diferença de tática e estratégia de como a gente vai chegar nas massas mais rapidamente, porque chegar nas massas falando sobre revolução logo de cara mesmo dizendo o que é socialismo e forma mais simples, a gente tem que entender qual as pautas do povo para poder a gente tá argumentando e passando a nossa linha né. Não é atoa que como é que a gente faz para chegar na massa estudantil? Reivindicando as suas lutas, reivindicando o que mais almejam para que nós possamos apresentar mais futuramente nosso programa (oportunismo!!!). Isso vai com o movimento estudantil, isso vai com o trabalho de mulheres, isso vai com a própria questão da Unidade Popular , porque pela Unidade Popular muitas vezes conhece a União da Juventude Rebelião, então são etapas(!!!!!!!!) que o companheiro ainda não passou”.(os grifes são meus.)
A dirigente me enviou esse áudio enquanto estava no III Congresso Nacional da Unidade Popular, por isso está um pouco distoante, mas no geral, essa é a linha política da UP/PCR. Irei desenvolver essa questão mais a frente quando começar a falar sobre etapismo e dimitrovismo, por isso, guardem essa resposta.
O que queria mostrar é que, o encastelamento da burocracia partidária é tão grande que segundo os dirigentes eu com 1 ano de militância “não cheguei ainda na etapa de conhecer o Pão Com Requeijão” e não há nenhum problema nisso. Essa linha de Vanguarda e Massas e de partido “ilegal”, a linha do PCR, em resumo serve para:
Manter a burocracia dogmática encastelada e;
Colocar etapas que um militante deve percorrer para conhecer a totalidade da estrutura, programa e funcionamento do partido. Etapas que servem apenas para enviesar os militantes, para transformar militantes comunistas em massa de manobra acrítica.
Bom, sobre esse segundo ponto podemos deduzir duas conclusões dessa frase: A) “as massas são burras e não tem capacidade ideológica de ouvir falar de revolução logo de cara” ou B) Somos oportunistas na forma que abordamos as massas, escondendo nosso programa e bandeira no lugar de expor desde o primeiro contato. No geral é isso. Que fique claro que aqui eu não defendo um revolucionarismo barato de sair falando de revolução e ditadura do proletariado em todo canto, no lugar de falar das questões mais imediatas que interessa nossa classe. O que falo aqui é sobre a incredulidade na consciência das massas e uma forma oportunista de pensar inserções, com “etapas” de máscaras que devemos ir removendo no processo."
É claro que existe um processo de disputa e mediação da consciência das massas. Existem quadros mais ou menos avançados no movimento operário. Um operário que participou de uma, duas, dezenas de greves obviamente tem uma consciência política mais avançada do que a de um que nunca participou de nenhuma. A questão aqui é que o PCR esconde o seu programa político e utiliza a UP para capturar as massas com pautas mais econômicas para aí então apresentar seu programa. Primeiro, isso é ser desonesto com a classe trabalhadora escondendo nosso verdadeiro projeto político. Segundo, não é isso que acontece na prática. O que acontece na prática é que a burocracia encastelada do PCR forma na UP e nos demais “movimentos de massas” não militantes, mas sim uma massa acrítica orientada pelo “marxismo-leninismo oficial” do partido(leia-se condução dos dirigentes). Não formam bons quadros militantes, formam soldados que só devem seguir ordens (centralismo burocrático). Na prática o que acontece é que a burocracia encastelada manda nos demais, demonstrando que seu real caráter político não é estar à frente, e sim acima.
“O fato de que os chefes que chegam ao topo se separam das massas, enquanto as massas começam a olhar para eles de baixo, sem ousar criticá-los – esse fato não pode deixar de criar um certo perigo de isolamento e estranhamento entre os chefes e as massas. Esse perigo pode chegar ao ponto em que os chefes se convençam e se considerem infalíveis. E de que adianta os líderes no topo se tornarem vaidosos e começarem a desprezar as massas de cima? Claramente, nada além de desastre para o partido pode vir disso.” - Josef Stálin (6)
Alguns problemas individuais com a estrutura organizativa
Aqui vale pontuar alguns problemas que eu individualmente identifiquei na estrutura organizativa que evidenciam o caráter burocrático da organização, e tudo que desenvolvi sobre liberdade de crítica.
Primeiro sobre a tal carta que citei anteriormente. Durante o decorrer do III Congresso Nacional da Unidade Popular o partido resolveu adotar a nomenclatura de “o partido antifascista do Brasil”, eu, por discordar veementemente dessa posição pois vejo que essa decisão representa o etapismo na estrátegia e tática da revolução e é uma expressão da linha dimitrovista que eu também considero extremamente nociva para o movimento operário, escrevi e enviei uma carta para a direção estadual da Unidade Popular colocando meus argumentos e esperando uma resposta. Enviei a carta a meu assistente de núcleo e ele me orientou a enviar a carta pessoalmente a uma dirigência que eu pessoalmente conheço(a mesma que me fez a resposta que transcrevi anteriormente), resultado: a carta não foi entregue a todas as dirigências, somente a essa em específico e ao vice-presidente estadual da UP, que não me deram uma resposta formal. Optaram por não socializar o conteúdo da carta com todas as dirigências e responder por áudio.(Isso só mostra o quanto a liberdade de crítica que dizem haver por meio de cartas na verdade não há e como a estrutura partidária funciona de forma burocrática.) Novamente, o conteúdo da carta será debatido no próximo capítulo pois é um dos motivos do meu desligamento.
Outro acontecimento que me ocorreu que também demonstra a falta de liberdade de crítica e a burocracia que existe no PCR envolve o Jornal A Verdade. Eu sempre tive muita vontade de escrever para o jornal, dar alguma contribuição teórica, construir o jornal do partido. Entretanto, todas as vezes que tentei fazer isso enviando textos, meus textos foram amassados. Não chego a dizer que isso foi um boicote a minha pessoa em específico, mas de todos os 6 textos que enviei ao jornal nenhum foi publicado. Sobre isso, eu entendo, o editorial pode ter entendido que alguns dos meus textos poderiam ser deixado de lado para dar espaço a pautas mais importantes para a ordem do dia, ou consideraram que as contribuições tem algum desvio, n motivos. Todavia, para além de não publicar, não me enviaram respostas do porquê não foi publicado. Ademais, o único texto meu que foi enviado para a redação nacional para ser avaliado foi um entitulado “Sobre a defesa da legalidade burguesa e os falsos aliados”, no qual o camarada responsável pelo jornal no estado do Ceará leu e disse ter enviado a redação nacional para que fosse avaliado ou não a publicação. Não sei se foi enviado mesmo, pois até hoje, o texto não foi publicado e não foi me enviado uma resposta do porquê não foi publicado.
Os outros textos, eu enviei ao camarada e ele nem sequer respondeu as minhas mensagens. O último texto que enviei é um texto de opinião sobre a questão da liberdade de crítica e a polêmica pública. Enviei duas semanas atrás, até agora minhas mensagens não foram nem visualizadas e fiquei sabendo hoje (31/12), que o camarada responsável está viajando. Isso só demonstra como realmente há uma burocracia montada dentro do partido, tanto que, a maior parte das matérias principais das edições impressas do jornal são escritas por uma pessoa: Luiz Falcão, um dos únicos dois membros do comitê central que são públicos, o outro é Edival Nunes Cajá.
Ponto interessante é que, esse meu último texto enviado eu pessoalmente pedi uma avaliação da presidenta estadual da UP Ceará, a resposta/avaliação que me foi dada só expressa a falta de liberdade de crítica e de espaços para criticar e disputar politicamente o partido. A resposta foi de que o partido não é adepto da ideia de polêmica pública e que por isso o texto seria rejeitado pois vai contra o estatuto das organizações que constroem o jornal.(Cadê os espaços para crítica, cadê a liberdade de crítica, cadê o leninismo?). Para além disso, também me disse que a UP está em busca de “fortalecer nosso campo e não dividi-lo”, não acho que precise expor novamente o quanto essa posição é anti leninista, né?
Para fechar, o último acontecimento foi entre eu e um camarada no Twitter que fez essa publicação: “acho que as manifestações contra o golpe do dia 8 mostrou que o fascismo não foi derrotado, apesar das urnas, que a agitação sobre bolsonaro ser fascista e golpista, sempre esteve correta e que aos milhões o povo brasileiro foi as ruas pra defender as liberdades democráticas”(os grifes são meus)
Prestem atenção nas partes grifadas, irei debatê-las demais posteriormente.
Enfim, frente a essa exposição de democratismo burguês eu respondi:
“E nunca será derrotado enquanto o Brasil for uma ditadura da burguesia. A luta é pela hegomonia proletária na luta de classes e a revolução proletária, e não por liberdades democráticas.”
O camarada me respondeu no privado: “oh companheiro, eu tenho certeza disso. aproveita o recesso da UJR pra ler Hoxha sobre as Liberdades Democráticas. a gente faz a defesa das liberdades democráticas sabendo as limitações disso, esse é um texto de um dos cadernos de formação da UJR”
Eu respondi:
“Eu tlg, camarada. Mas esse tipo de comunicação dá a entender outra coisa e é prejudicial. Dá uma ideia de etapismo no movimento revolucionário de que para alcançar a revolução (as vzs até pra falar de revolução) precisa primeiro "derrotar o fascismo" e lutar por liberdades democráticas”
A resposta do camarada não irá surpreender depois de toda a exposição que fiz sobre a falta de liberdade de crítica plena no partido:
“companheiro, de qualquer maneira, não é daora ficar criando debates em redes sociais entre a militância da UJR. Faça a crítica no seu coletivo. se a gente fica debatendo assim abertamente ou até de aqui no chat fica mostrando as fragilidade e discordâncias da nossa organização. entre nós podemos ter discordâncias, mas pro nosso inimigo temos que parecer um bloco coesfo.”
Bom, acho que não preciso mais falar sobre a falta de liberdade de crítica no partido, não é?
Etapismo e dimitrovismo: uma eternidade de derrotas da revolução
Esse é um dos pontos principais que irei iniciar expondo o conteúdo da carta que citei anteriormente. O título que dei a carta é “Carta aos camaradas: o partido "antifascista" do Brasil?”, aqui está a carta:
“Dirijo esta carta aos camaradas dirigentes de nosso partido, em especial, as dirigências nacionais. Companheiros, com os rumos do nosso partido sendo tomados a partir deste terceiro congresso, fiquei bastante encucado com uma questão específica: a nomenclatura que decidimos adotar no decorrer deste III Congresso da Unidade Popular de "o partido antifascista do Brasil". Quando atento a esta questão, é evidente que não estou me colocando contra sermos antifascistas, é claro, pois, por sermos comunistas, somos irremediavelmente antifascistas. E é este o ponto que almejo chegar, por que estamos assumindo a nomenclatura de antifascistas como parte principal de nossa estratégia política? Vejam, para essa questão é necessário voltar a uma categoria leninista, a de estratégia e tática. Eis a questão: qual é a nossa estratégia política? Não é construir a revolução e o poder popular? Nossa estratégia política não é a defesa de uma revolução de caráter marxista-leninista? Por que assumimos essa nomenclatura se isso não representa nossa estratégia política e sim nossa TÁTICA revolucionária? Proclamar nosso partido como "antifascista" não diz nada pois não apresenta a estratégia e o programa de nossa organização. Esta decisão tem um caráter puramente etapista, camaradas. Pelo apreço que tenho por nosso partido e pela convicção que tenho de que será a Unidade Popular que irá construir uma revolução de caráter socialista no Brasil, não pude deixar de me manifestar. Pois a decisão política de assumir a nomenclatura de "o partido antifascista do Brasil" representa um abandono da estratégia comunista. Não coloco essa questão por identitarismo de se auto afirmar comunista a todo momento. E sim porque, enquanto marxista-leninista convicto, reconheço que as lutas atuais, da ordem do dia, as questões econômicas, NÃO representam o horizonte político que almejamos construir. Não podemos nos limitar a essas lutas, como é a de exigir a prisão de Bolsonaro e seus cúmplices,que foi central na UP desde a eleição de Lula, e combater o fascismo. Nosso fim, ou melhor, nosso horizonte político, é construir o poder popular, o socialismo. Isto é Lênin, camaradas (Que tive de revisar atentamente antes de escrever esta carta). Em seu texto "Greve Econômica e Greve Política"(Disponível no Tomo II das Obras Escolhidas de Lênin da Editora Avante, pág 54-61), onde deixa explícito o caráter econômico das lutas e como nós, comunistas, devemos dar uma perspectiva política revolucionária a essas lutas. Somos comunistas e evidentemente combatemos o fascismo, mas assumir como nomenclatura, na essência, que somos "o partido antifascista" dá lugar ao etapismo, a abandonar nossa estratégia política. Claro que podem chegar a conclusões de que o antifascismo é necessariamente anticapitalista(quando na verdade não e, apenas deveria ser). Antifascismo é uma síntese teórica sobre o combate ao fascismo, não é necessariamente anticapitalista, e quando o é, não quer dizer nada. Comunismo não é apenas anticapitalismo. Isso não fundamenta estratégia nem tática, tanto que os anarquistas também são anticapitalistas, mas qual é a estratégia política deles? Quais são suas táticas? A dos comunistas eu sei jem quais são: organizar o poder popular, construir a revolução socialista, a ditadura do proletariado, travar a luta de classes. É perigoso colocarmos como nomenclatura que somos "o partido antifascista"(Somos apenas antifascistas?). Isso é colocar o combate ao fascismo como uma necessidade política vigente DESCOLADA de nosso horizonte. É degenerar a linha de nosso partido, implementar uma "etapa anterior" aos nosso deveres revolucionários, que com o tempo passarão a não ser nem mais levados desta forma. Não é uma crítica identitária, novamente, sobre não adotarmos uma "estética comunista", como o vermelho, a foice e o martelo, etc. é sobre o nosso discurso, as palavras de ordem, como estamos abandonando a simbologia comunista com essa decisão de nos assumirmos como partido antifascista. Estamos com medo de falar a verdade para as massas, de que somos comunistas? Durante a etapa estadual do congresso no estado do Ceará, defendi que devemos estabelecer neste terceiro congresso as palavras de ordem que iremos utilizar, quais serão nossas reivindicações imediatas trente ao atual governo de conciliação de classes, em suma, como iremos ganhar as massas frente a iminente falência da social democracia. Camaradas, quais são nossas pautas? Como iremos ganhar as massas? Se auto proclamando antifascistas e exigindo a prisão de Bolsonaro? Por que não estamos falando sobre o processo de privatização dos presídios? Reverter as privatizações feitas por Bolsonaro? O novo teto de gastos? Iremos cair no mesmo revisionismo do PCB de se render ao reformismo e não realizar críticas ao atual governo?(nota: aqui se refiro ao antigo PCB, ou seja, a fração pequeno-burguesa que hoje é o PCB-CC) Iremos ganhar as massas com a revolta - justa - das massas contra a social democracia e o reformismo? Estamos caindo em etapismo, camaradas. Colocando etapas no desenvolvimento da revolução e eminentemente se afundando nelas. Recuando nossa estratégia política. Reafirmo, como militante, creio no potencial revolucionário da UP, e trabalho para que isso se concretize todos os dias, assim como os demais camaradas. Não posso deixar de expor esses apontamentos. Coloco que utilizar como nomenclatura "o partido antifascista do Brasil" é colocar como horizonte político a prisão de Bolsonaro e o combate ao fascismo, é recuar nossas pautas comunistas e deixar de evidencia-las as massas. Por isso considero um erro assumirmos essa nomenclatura. Por ser uma decisão feita coletivamente devo acata-la, entretanto, não deixo de critica-la. Afinal, essa é a base de nosso partido, pois sempre temos de dar ênfase na palavra "democrático" quando nos referimos ao centralismo-democrático. Está o partido degenerando? Torço para que não, e luto para que não. "O dever do revolucionário é fazermos a revolução", faremos-a.”
Camaradas, o que quero expor nessa carta é que a linha política do PCR/UP está afundada na concepção etapista de Dimitrov. A estratégia dimitrovista é programa do partido, tanto que os textos onde Dimitrov fundamenta teoricamente suas concepções são distribuídos dentro do complexo partidário como referência de estudo sobre fascismo e combate ao fascismo, como por exemplo o “Unidade da classe operária contra o fascismo”, publicado pelo partido e recomendado como leitura inicial a todos que querem estudar sobre o fenômeno fascista dentro do partido.
Qual o grande problema disso, camaradas? Como aponta Francisco Martins Rodrigues(FMR), é que a linha de Dimitrov (a frente popular), por trás de suas fraseologias “marxista-leninista”, “Proletária” e revolucionária”, há uma completa negação da teoria marxista da luta de classes, da luta entre proletariado x burguesia, e em seu lugar assume-se uma luta entre “fascismo” como uma nova classe e “setores democráticos”. A grande prova disso é que depois do sétimo congresso da Internacional Comunista(Congresso onde a estratégia da “Frente Popular”dimitrovista se tornou a linha da IC), PCs se entranhavam com a Social Democracia e, para conquistar o seu apoio, se limitavam a estar no seu reboque, apenas as suas pautas democráticas em nome do combate ao fascismo.. A linha dimitrovista matou a revolução em diversos países e continua matando até hoje pois é uma estratégia etapista, de rebaixamento do programa revolucionário do partido para atingir a “primeira etapa” da revolução: “derrotar o fascismo”. Uma estratégia democratista que coloca os interesses de classe do proletariado atrás, pois é preciso se unir numa frente popular e focar no inimigo maior: o fascismo(que todos sabemos que nunca será derrotado dentro do capitalismo, somente com uma revolução proletária). Essa linha democratista, ou seja, de defesa da democracia (burguesa) e de derrotar o fascismo como primeira etapa da revolução se expressa tanto nas resoluções do partido, como em discursos de dirigentes, quanto em militantes comuns como foi o caso do camarada do twitter que eu expus onde ele fala que Bolsonaro não foi derrotado “apesar das urnas”(como se as urnas tivessem alguma possibilidade de derrotar o fascismo), e que o povo foi para as ruas, não para defender os interesses de classe do proletariado, mas sim as “liberdades democráticas”.
Essa “primeira etapa da revolução” se assume como etapa permanente, um ciclo vicioso, porque o fascismo nunca é derrotado e a estratégia do partido se mantém a mesma: derrotar o “fascismo”... Mas que fascismo?
“A escolha para o proletariado não se punha pois, ao contrário do que disse Dimitrov, entre democracia burguesa ou fascismo, mas entre luta revolucionária ou luta reformista contra o fascismo. A falsa alternativa a que amarrou os comunistas — «se não querem o nazismo, aceitem a democracia burguesa» — foi a forma de fazer desaparecer a verdadeira alternativa que estava posta: antifascismo revolucionário, para acabar com o capitalismo, ou antifascismo reformista, para o remendar.”(7)
O dimitrovismo nada mais é do que um falso debate. Não existe essa dicotomia entre fascismo x democracia burguesa. O que existe é proletariado x burguesia. O fascismo é somente um ataque aberto da burguesia contra o proletariado, sua ditadura aberta, não mais velada pelo parlamentarismo caducado. O dimitrovismo amarra o movimento comunista a luta antifascista e nos leva ao mesmo resultado desde o sétimo congresso da IC: derrota da revolução proletária. A escolha política que a UP fez de assumir a nomenclatura de “o partido antifascista do Brasil” representa não a sua perda dos príncipios e de sua estratégia revolucionária de emancipação do proletariado, como expus equivocadamente na “Carta aos camaradas”, mas sim uma exposição do seu verdadeiro caráter, uma organização reformista desde sua criação, e isso só consegui perceber a pouco tempo. É uma expressão do democratismo, discurso que representa a estratégia política da UP: o de defesa do “estado democrático de direito”.
A campanha “Pela Punição de Bolsonaro e Seus Cúmplices” é uma campanha democratista e etapista que coloca a luta pela “punição dos fascistas” como lutar anterior, como etapa, para então a revolução. Essa tática expressa o tamanho rebaixamento das pautas realmente comunistas, isso se expressa em um panfleto distribuído nacionalmente pela UP em Abril, onde diz: “Agora, depois de termos derrotado o golpe nas ruas, não podemos recuar, vamos colocar o povo na rua para esmagar o fascismo.”
Vamos colocar o povo na rua para esmagar o fascismo? Mas e o Poder Popular? E a revolução proletária? E as diversas outras pautas imediatas que rondam o governo de caráter econômico neoliberal de Lula e Alckmin? A palavra de ordem que encerra o panfleto termina de escancarar o abandono da linha política revolucionária e o reformismo e democratismo do partido: “Pela defesa das liberdades democráticas!”
A linha política que foi e está sendo adotada pela Unidade Popular é uma linha reformista. Mas de que importa, não é? Afinal “é porque, como você não conhece por exemplo o Pão Com Requeijão”, eu ainda não cheguei na etapa de conhecer o PCR (risos). Só escancara mais ainda o burocratismo do partido, a concepção de que a vanguarda, a burocracia, vai dar a linha política revolucionária de cima pra baixo e pouco importa a linha que está sendo contruída na UP e o poder político que essa imensa massa de filiados tem dentro do partido, como se não fosse possível as massas democratistas da UP simplesmente dizer “não!” e rachar com o PCR.
O partido também deixa de lado o enfrentamento aberto ao governo burguês de conciliação de classes de Lula e Alckmin, fazendo apenas tímidos enfrentamentos a algumas medidas do governo como o Marco Temporal e o Arcabouço Fiscal, mas não assume a postura de ser uma oposição de esquerda ao governo Lula(atitude fundamental na atual conjuntura, que infelizmente, por conta do dimitrovismo, é impossível na UP). A UP não constrói uma oposição de esquerda ao governo Lula, radicalizando as massas à esquerda e evidênciando o caráter neoliberal e de direita do governo, porque seu discurso, suas palavras de ordem, sua estratégia e tática estão afundados no etapismo democratista de Dimitrov.
A construção de uma oposição de esquerda ao atual governo é fundamental para construir uma hegemonia proletária na luta de classes. Para evidenciarmos que o atual governo não é de esquerda, que não tem política econômica de esquerda, e possamos captar o sentimento de radicalidade das massas quando a crise estourar por conta da iminente falência da social-democracia. Se nós, os comunistas, não fizermos isso, se não profissionalizarmos o trabalho do partido, aprimorarmos nossa agitação e propaganda com um viés de classe do proletariado, se não radicalizamos as massas à esquerda, essa radicalidade vai ser capturada pela direita assim como foi em junho de 2013 onde um movimento legítimo pelo passe livre foi cooptado pela direita e começou a assumir bandeiras “apártidarias”, “patrioticas”, etc. A UP por ser um partido afundado no dimitrovismo, não planeja assumir essa postura, pois sua estratégia atual é “barrar o fascismo”, construir “uma frente única antifascista”, “lutar pela unidade entre todas as classes contra a barbarie fascista”... Não preciso dizer que esse programa não tem nada de comunista, ele na verdade é expressão do reformismo.
“Assim funciona a falsa democracia em que vivemos: a pressão econômica exercida pelas classes possuidoras do capital (que foram derrotadas nas eleições) se impõe contra o desejo do povo manifestado nas urnas. Só radicalizando a democracia e entregando todo o controle dos órgãos públicos e da economia à maioria da população, ou seja, aos trabalhadores, poderemos implantar um modelo econômico e um governo voltados para os interesses sociais, e não para o lucro dos capitalistas banqueiros e grandes empresas que formam a classe minoritária. Ou seja, uma democracia socialista. Mas essa democracia só poderá ser alcançada com uma revolução popular, que vai nos livrar da exploração capitalista.” (8)
Para o companheiro Leo Péricles, presidente nacional da Unidade Popular, é possível radicalizar a democracia burguesa, similar a estratégia da Unidade Popular no Chile. Nós sabemos o que aconteceu com o Chile.
“Vemos como estavam distanciados Marx e Engels das concepções em que se baseiam hoje a política de frente popular. No ano de 1850, quando na Alemanha, após a derrota da revolução, dominava a pior reação, exigiam que os comunistas criticassem o programa da democracia pequeno-burguesa e as ilusões democrático-burguesas. Eles eram contrários a que, em nome da constituição de uma oposição mais ampla possível contra o poder dominante e o seu terror, se colocassem para trás as reivindicações de classe do proletariado. Eles não chegaram à ideia de se comprometer com a república parlamentar-burguesa, reivindicada pela democracia pequeno-burguesa, e sim exigiram, para o caso da revolução, a formação de governos locais de trabalhadores, isto é, de sovietes, como poderíamos dizer hoje, para então conduzir a revolução burguesa da forma mais resoluta para o seu final e realizar a transição para a revolução proletária.”(9)
Culto à personalidade de Stálin e o cosplay de bolchevique
Agora um ponto extremamente problemático, que se expressa principalmente nas fileiras do PCR e da UJR, e em menor tamanho na UP: o culto à personalidade de Stálin.
Camaradas, não me levem a mal, eu não sou um anti-stalinista barato ou algo do tipo. Eu reivindico o legado de Stálin pelo seu papel histórico fundamental, mas diferente da linha do PCR, não faço isso de forma acrítica. O que existe no PCR é um culto a personalidade de Stálin, coisa que o próprio camarada Stálin reprovava.
Acho que a forma mais fácil de demonstrar isso é: veja as últimas publicações feitas pelo perfil da UJR em qualquer rede social. Pelo menos 5 de 10 são sobre Stálin. Não, nesse momento da luta de classes que estamos a juventude não está fazendo agitação sobre questões como o Novo Teto de Gastos que começa a valer em 2024, ou a reforma tributária, debatendo e publicizando textos sobre a história e sociedade do Brasil… Não! Estão publicizando textos sobre o Stálin, que são claramente propagandas glorificadoras, coisa que o próprio Stálin reprovaria, como demonstrou várias vezes como quando tentaram lhe presentear com uma “medalha de heroísmo”:
“Isso é bajulação de bobos! Um prêmio tão alto deve ser dado apenas aos soldados que mostraram heroísmo no campo de batalha! Nunca estive na linha de frente com um rifle nas mãos e não demonstrei nenhum heroísmo! Ao descobrir os sentimentos pouco cerimoniosos de Stalin em relação a isso, Malenkov foi eleito para abordar Stalin sobre isso ... mas sendo muito cauteloso, pediu a Poskrebyshev que fizesse isso. Poskrebyshev também estava com medo, pois sabia que Stalin não aprovava tal “glorificação cerimoniosa”. Ele atribuiu essa tarefa a Orlov, o comandante dos guarda-costas pessoais de Stalin... deixe-o fazer isso. Orlov sabia melhor do que isso... a medalha nunca foi dada e Stalin nunca a aceitou.”(10)
As imagens utilizadas nos posts são claramente imagens enaltecendo a figura de Stálin, imagens de propaganda do estado soviético para pregar Stálin como o fiel discípulo de Lênin, o líder do partido de “Lênin-Stálin”... Mas se o culto a personalidade ficasse só aí… Textos ruins que foram escritos pelo camarada Stálin são recomendados como leitura inicial para toda a militância, como o “Sobre o Materialismo Histórico e o Materialismo Dialético”, só o título já expressa um erro, mas não pretendo me aprofundar nesse pormenor. A questão aqui é que o culto à personalidade de Stálin é tão grande no partido que diversos textos que passam uma linha danosa ao movimento comunista são recomendados como leitura inicial para a militância que acabou de entrar no partido. Não me levem a mal novamente, o camarada Stálin tem ótimos textos e ótimas contribuições a diversos debates como a questão nacional, emulação socialista, partido, mas existem diversos textos do camarada que são danosos e não devem ser enxergados como textos de formação, esse texto sobre materialismo é um exemplo pois passa uma falsa concepção do que é o materialismo-histórico-dialético.
Em suma, essa posição acrítica sobre a figura de Stálin, o engrandecimento de sua figura e a retórica de que críticas ao camarada são necessariamente “anticomunismo” só expressam o caráter dogmático e burocrático do partido, como debati anteriormente.
Uma questão que vai no caminho desse culto à personalidade de Stálin é o que eu caracterizo como “cosplay de bolchevique”, que nada mais é do que a construção de uma identidade bolchevique dentro do partido, como se todos os militantes fossem os bolcheviques russos e se enxergam como tal(o que não é verdade pois, como demonstrei, as atitudes e a linha do partido vão em contradição com a linha do partido bolchevique e de Lênin).
Enfim, o que se constrói dentro do partido é uma identidade marxista-leninista, o uso de fraseologias e uma estética soviética. Isso não é algo que se precise ser militante do partido para enxergar, é algo facilmente perceptível por fora. É só ver as capas que são utilizadas nas matérias do Jornal A Verdade para ver a estética que é utilizada: uma estética soviética. Se utiliza imagens de trabalhadores soviéticos, de membros do PCUS, de propaganda estatal soviética, querendo passar uma imagem de “nós somos revolucionários, veja como reivindicamos Stálin e a experiência soviética”. Um pequeno apontamento que não deve ser levado como crítica mas sim como fator para a construção desse argumento da “identidade bolchevique” é o próprio nome do jornal do partido: A Verdade. Que é uma tradução do nome do jornal do partido bolchevique, Pravda(Que significa literalmente A Verdade em russo). O cosplay de bolchevismo é tão grande que até o jornal do partido tem o nome do jornal bolchevique.
A identidade marxista-leninista é construída de tal forma fetichista, como se ser marxista-leninista fosse acatar ideias e simbolos de maneira acrítica(como fazem com Stálin), que boa parte dos militantes tomam o lado do partido como seu lado sem antes nem estudar ou procurar compreender certas dicotomias que são pregadas como Stálin x Trotsky, Hoxha x Mao… O que ocorre não é que os militantes estão interessados nas consequências práticas de cada um desses lados e enxergar que um ou outro é mais interessante para construir a revolução brasileira, mas sim porque querem tomar o lado para se sentirem pertencentes a um grupo, uma tribo social(no caso do PCR, o grupo dos “marxistas-leninistas”, dos “bolcheviques à moda russa”).
Assumir o marxismo-leninismo como identidade, como um cosplay de bolchevique, não poderia estar mais distante do que é o marxismo-leninismo. Marxismo-leninismo é a práxis revolucionária, é a teoria da revolução proletária e da ditadura do proletariado aplicada às condições materiais objetivas de cada país(para se construir a revolução que tem um caráter internacional mas que ocorre em âmbito nacional). Ele não é um dogma, mas sim um guia para a ação. Mas não é isso que os cosplayers de bolchevique enxergam, o que compreendem é uma visão dogmática do marxismo-leninismo, uma doutrina parada e fechada a ser seguida, por isso reivindicam de forma acrítica figuras como Stálin(que foi pregado, contra sua vontade, ser a expressão viva do marxismo-leninismo) e se colocam nessa posição de “bolcheviques” assumindo sua estética.
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Enfim, camaradas, o que quero com essa carta é deixar público o meu rompimento com a linha, o programa e a prática do Partido Comunista Revolucionário que é o dogmatismo, o burocratismo, o dimitrovismoe o anti-leninismo.
Não compactuo com essas concepções políticas que considero — e tenho convicção que são — danosas ao movimento comunista internacional e, na maior parte dos casos, motivo da falência da revolução proletária desde o sétimo congresso da IC. Espero que os camaradas pertencentes ao complexo partidário do PCR, que durante mais de um ano foram meus camaradas de militância, enxerguem essa carta de desligamento e as críticas que aqui fiz como exposições de erros grotescos dentro do partido e que devem ser superados. Meu intuito aqui não foi atacar o partido e muito menos desmoraliza-lo, mas sim expor publicamente suas questões mais problemáticas para que os militantes possam avaliar se é possível ou não superar essas contradições internas.
Tornarei esta carta pública através do coletivo de agitação e propaganda digital Educação Revolucionária, o qual eu construo desde antes de iniciar minha militância nas fileiras da UJR, e pelo site Em Defesa do Comunismo(EDC), que considero ser hoje um dos únicos e importante instrumento de publicização dos debates mais candentes do movimento comunista brasileiro, e representa, na prática, a linha política a qual eu reivindico, que somente a polemica publica e a plena liberdade para criticar pode dar lugar a verdadeira unidade de ação, não mecânica, mas duradoura. Ademais, pretendo no mais tardar analisar o movimento da Reconstrução Revolucionária do Partido Comunista Brasileiro e avaliar minha possível iniciação nas fileiras do partido.
No tocante, camaradas, essas são minhas críticas ao PCR que me levaram a rachar com sua estratégia política, espero que esse documento, por ser público, tome algum tipo de papel em alavancar o debate e a polêmica sobre essas questões da reconstrução do movimento comunista brasileiro, pois meu compromisso político não é com partido x ou y, e sim com a revolução socialista brasileira e internacional.
Notas e Referências:
(1) Centralismo democrático: “Liberdade para Criticar e Unidade de Ação”, Vladimir Lênin. Conferir em: https://www.educacaorevolucionaria.com/post/centralismo-democr%C3%A1tico-liberdade-para-criticar-e-unidade-de-a%C3%A7%C3%A3o
(2) Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo, Capitulo 7, Vladimir Lênin. Conferir em: https://www.educacaorevolucionaria.com/post/l%C3%AAnin-deve-se-participar-nos-parlamentos-burgueses)
(3)Centralismo democrático: “Liberdade para Criticar e Unidade de Ação”, Vladimir Lênin. Conferir em: https://www.educacaorevolucionaria.com/post/centralismo-democr%C3%A1tico-liberdade-para-criticar-e-unidade-de-a%C3%A7%C3%A3o
(4) idem.
(5)“Cartas para Apollinaria Iakúbova 9 e 10”, V. I. Lênin
(6) Medvedev, Roy. Let The history judge. Nova York: Columbia University Press, 1989, p. 850
(7) Anti-Dimitrov -1935/1985 - meio século de derrotas da revolução, Francisco Martins Rodrigues.
(8) Péricles. L. Santos. T. É preciso acelerar a construção da UP. A verdade, 2014.
(9) Thalheimer. A. Sobre o fascismo. Centro de Estudos Victor Meyer, 2009.
(10) Rybin, Aleksei. Ao lado de Stalin: notas de um guarda-costas. Toronto: Northstar Compass Journal, 1996, p. 48.
Marxismo-Leninismo: Identidade ou Práxis?, por André Brandão. ver em https://www.educacaorevolucionaria.com/post/marxismo-leninismo-identidade-ou-pr%C3%A1xis
Parabéns pelo texto, camarada, essencial para pensar a reconstrução do movimento comunista!
Parabéns!!
Terminei de ler sua carta, camarada, e enfim, vou fazer alguns apontamentos que considero pertinentes, mas antes, gostaria de saber se está tudo bem contigo? Como está com esse desligamento e afins? Eu acredito que é uma carta muito interessante na leitura que faz acerca do complexo como um todo, da polêmica pública e na crítica à linha dimitrovista. Aliás, me solidarizo contigo com os ataques que recebeu ou deve receber eventualmente, venho aqui com uma crítica política, muito distante do pessoal.
Meus 'poréns' à carta aqui:
1 - Não há uma apresentação clara das distinções entre UJR, PCR, UP e demais movimentos. Entendo que você demonstra ao longo do texto um certo porquê disso, mas a própria apresentação desse problema de forma objetiva, entendo que não ocorreu. Eu acho isso péssimo porque há uma divisao muito grande, não só no sentido da UJR ser a juventude do PCR, mas também num sentido da linha política da UJR não ser a linha política dos demais, como ficou muito evidente no que colocou. Realmente por nunca ter estado no PCR, o camarada só poderia falar do partido como alguém de fora, porque na concepção político-organizativa do PCR, a UJR não faz parte do mesmo agrupamento.
2 - Entendo que falta uma delineação melhor da sua concepção leninista. Pela leitura do texto, vejo que só é adepto da polêmica pública porque Lenin a defendeu. Isso é um problema, porque não há uma compreensão intrínseca do porque Lenin defendia a polêmica pública, o contexto histórico, de como ela de fato beneficiava a construção de uma unidade do partido, de como realizá-la corretamente, e afins. Se deixando pro Lenin responder sem ter uma concepção propria, o problema disso é que Lenin no X Congresso do PCR(b), vai defender uma forte restrição da polêmica pública. Claro, foi num âmbito da guerra civil russa, mas quais eram essas condições historicas pra Lenin defender isso e se elas se aplicam ao Brasil em alguma medida? Qual seria a diferença nos diferentes contextos? Entendo que assim que se realiza uma análise leninista, na "análise concreta da realidade concreta", como repetiria o velho russo.
3 - Numa questão mais da forma do texto, entendo que houveram muitas repetições ao longo do texto, tornando ele muito maçante e pouco objetivo.VietCauang.