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Marx: "Carta a Wilhelm Bracke"

Atualizado: 24 de nov. de 2022

Karl Marx

5 de Maio de 1875



 

Londres, 5 de Maio de 1875 Caro Bracke, Após leitura, tenha a bondade de comunicar as seguintes glosas marginais críticas ao programa de coalizão a Geib e Auer, Bebel e Liebknecht, para exame.(1*) Eu estou superocupado e tenho já que ultrapassar em muito o limite de trabalho que me está medicamente prescrito. Não foi, portanto, de modo nenhum um «prazer» para mim escrever um tão longo papel. Foi, contudo, necessário para que, mais tarde, os passos a dar por meu lado não sejam mal interpretados pelos amigos do Partido, aos quais esta comunicação é destinada. <Depois do congresso de coalizão se ter efectuado, Engels e eu publicaremos, nomeadamente, uma curta declaração segundo cujo teor somos inteiramente estranhos ao dito programa de princípios e nada temos a ver com isso.>(3*) Isto é indispensável, uma vez que no estrangeiro se sustenta a opinião cuidadosamente alimentada pelos inimigos do Partido — a opinião inteiramente errónea — de que nós, a partir daqui, dirigimos em segredo o movimento do chamado Partido de Eisenach[N6]. Ainda num escrito russo[N7] recentemente publicado, Bakúnine faz de mim responsável, por exemplo, <não só> de todos os programas, etc, daquele Partido, <como mesmo de todos os passos que Liebknecht deu desde o dia da sua cooperação com o Partido Popular[N8] >. A parte isso, é meu dever não reconhecer, mesmo por um silêncio diplomático, um programa, na minha convicção, inteiramente rejeitável e que desmoraliza o Partido. Os chefes dos lassallianos vinham, porque as condições a isso os obrigavam. Se antecipadamente se lhes tivesse declarado que não se embarcaria em nenhum regateio de princípios, eles teriam tido de se contentar com um programa de acção ou com um plano de organização para uma acção comum. Em vez disto, permite-se-lhes que apareçam armados de mandatos — e reconhece-se, por seu lado, esses mandatos como vinculativos —, pondo-se, portanto, à mercê dos que precisam de ajuda. Para coroar a coisa, eles efectuam de novo um congresso antes do congresso de compromisso, enquanto o [nosso] próprio Partido efectua o seu congresso post festum(4*). <Manifestamente, queria-se escamotear toda a crítica e não deixar o próprio Partido chegar à reflexão.> É sabido como o simples facto da unificação satisfaz os operários, mas erra-se se se crê que este sucesso momentâneo não é pago demasiado caro. Ainda por cima, o programa não vale nada, mesmo abstraindo da canonização dos artigos de fé de Lassalle. <Enviar-lhe-ei, nos tempos mais próximos, os últimos fascículos da edição francesa do Capital. O prosseguimento da impressão foi durante algum tempo travado por proibição do governo francês. Esta semana ou no princípio da próxima a coisa estará pronta. V. recebeu os seis fascículos anteriores? Tenha também a amabilidade de me escrever a morada de Bernhard Becker, a quem tenho igualmente de enviar os últimos fascículos.> A livraria do Volksstaat[N9] tem maneiras próprias. Assim, até este momento, por exemplo, também não me fez chegar um único exemplar da impressão do Processo dos Comunistas de Colónia(5*). Com os melhores cumprimentos.

Seu,

Karl Marx


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Fonte: marxists.org



Crítica ao Programa de Gotha: Escrita em 1875, em Londres, Crítica do Programa de Gotha consiste em um conjunto de notas de Marx ao texto do projeto de unificação dos partidos socialistas alemães numa única agremiação operária. Nas suas observações – desordenadas às vezes, tendo como base um documento (o Programa de Gotha)





 

Notas de rodapé: (1*) No manuscrito assinala-se aqui com uma cruz a inserção da seguinte observação redigida na sua parte superior: «N[ota]bene(2*). O manuscrito tem de regressar às suas mãos, para, em caso de necessidade, estar à minha disposição.» (Nota da edição portuguesa.) (2*) Em latim no texto: Nota bem. (Nota da edição portuguesa.) (4*) Em latim no texto: literalmente, depois da festa, isto é, depois dos acontecimentos. (Nota da edição portuguesa.) (4*) Em latim no texto: literalmente, depois da festa, isto é, depois dos acontecimentos. (Nota da edição portuguesa.)

Notas de fim de tomo: [N6] Em Eisenach, no congresso pan-alemão dos sociais-democratas da Alemanha, da Áustria e da Suiça, realizado de 7 a 9 de Agosto de 1869, foi criado o Partido Operário Social-Democrata alemão, posteriormente conhecido como partido dos eisenachianos. O programa aprovado pelo Congresso correspondia inteiramente aos princípios da Internacional. [N7] Trata-se do livro da BakúnineEstatalidade e Anarquia, publicado na Suíça em 1873.

[N8] O Deutsche Volkspartei {Partido Popular Alemão), fundado em 1865, era constituído por elementos democráticos da pequena burguesia e por parte da burguesia, sobretudo dos Estados do Sul da Alemanha. O Partido opunha-se ao estabelecimento da hegemonia da Prússia na Alemanha e defendia o plano da chamada «Grande Alemanha», na qual deviam entrar a Prússia e a Áustria. Propagandeando a ideia de um Estado alemão federativo, o Partido pronunciava-se contra a unificação da Alemanha sob a forma de uma república democrática centralizada única.[N9] Trata-se da editora do Partido Operário Social-Democrata, que publicava o jornal Volksstaat e literatura social-democrata. A editora era dirigida por August Bebel.

Der Volksstaat (O Estado Popular): órgão central do Partido Operário Social-Democrata (eisenachianos), publicou-se em Leipzig de 2 de Outubro de 1869 a 29 de Setembro de 1876, sob a direcção de Wilhelm Liebknecht. Marx e Engels cola­boraram no jornal, dando uma ajuda permanente à sua redacção.

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