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Kollontai: Por que Lutamos?

Alexandra Kollontai

7 de maio de 1919

 

Essa é a pergunta que perturba muitas pessoas, a pergunta que o Exército Vermelho e os trabalhadores enfrentam e preocupa os camponeses. Os comunista-bolcheviques, dois anos atrás, não nos convocaram em nome da paz? Por que a guerra continua? Por que estamos sendo mobilizado mais uma vez e enviados para o front?


Para responder a essa pergunta, deve-se entender o que está acontecendo ao nosso redor, os eventos que estão ocorrendo. Assim que os trabalhadores e camponeses tomaram o poder em suas mão em outubro de 1917, eles honestamente ofereceram paz a todos os povos. Entretanto, os trabalhadores de outros países ainda eram muito fracos e os capitalistas predatórios ainda eram fortes o bastante para continuar a guerra. Em março de 1918, o governo soviético, desejoso pela paz, assinou o desvantajoso e oneroso Tratado de Paz de Brest com a Alemanha para retornar o lavrador para seu campo, o trabalhador para seu torno, para salvar a vida de seus cidadãos livres.


Porém, os predadores imperialistas não têm medo de sangue e não valorizam a vida humana. Eles precisavam de guerra e por isso a burguesia de todos os países fez repetidos ataques à Rússia Soviética e à Ucrânia Soviética externamente, enquanto dentro do país eles encorajavam ações dos kulaks contra trabalhadores e camponeses. Um novo front de batalha se formou – não mais russos contra alemães ou ucranianos contra os aliados, mas “vermelhos” contra “brancos”, ou seja, os trabalhadores contra a burguesia.


O que mais o povo podia fazer? ele deveria dizer: somos contra a guerra, somos pela paz e, portanto, se os Kolchaks, os Denikins e os Krasanovs nos atacarem, nós não vamos pegar em armas?! Deixe que o capital americano, alemão ou russo nos governe mais uma vez e que introduza entre nós o melhor sistema para esse capital – não faz diferença para nós?!


Claro, nenhum soldado do Exército Vermelho, trabalhador ou camponês minimamente racionais diriam algo assim.


O camponês logo percebe: se Skoropadsky retornar, junto dos sacerdotes e latifundiários, diremos adeus à da terra e à liberdade! Mais uma vez teremos de retirar nossos chapéus diante do policial da vila e morreremos de forme enquanto os celeiros dos latifundiários estão entupidos de grãos dourados!


O trabalhador entenderia que o retorno da burguesia ao poder significaria o retorno à falta de direitos, à exploração do trabalho, à abolição da jornada diária de trabalho de oito horas e do seguro-desemprego, que levaria à expulsão dos trabalhadores de seus apartamentos iluminados e saudáveis para serem mandados de volta aos porões úmidos. Significaria o retorno à escravidão do trabalho assalariado.


O soldado do Exército Vermelho lembraria do regime, similar ao de prisão, dos quartéis tzaristas, golpes por oficiais, insultos e abusos por comandantes da antiga ordem, carne podre para o jantar, roubos por superintendentes militares, e suas mãos buscariam instintivamente seu rifle de proteção.


Todos os trabalhadores tomados como um todo não podem deixar de compreender que agora a questão é se os camponeses e trabalhadores serão os senhores da Rússia e da Ucrânia, ou se sacerdotes, latifundiários e capitalistas retornarão e se pendurarão mais uma vez no pescoço do povo como a pedra de um moinho.


Isso não é guerra, mas sim os trabalhadores se levantando em defesa de seus direitos, liberdade e de suas próprias vidas!


Nós não estamos lutando para anexar novas terras ou escravizar ou saquear outro povo, mas para nos protegermos dos predadores capitalistas. Nós estamos lutando para garantir ao camponês e seu filho a possibilidade de cuidar de sua terra pacificamente, para dar ao trabalhador a possibilidade não de trabalhar em uma fábrica ou planta, mas de ele mesmo participar na organização da produção, de ele mesmo distribuir a riqueza nacional de forma que cada um receba o que lhe é devido, em vez de um só homem ficar com tudo só por ser um capitalista e pegar para si a maior parte da riqueza nacional.


Nós estamos lutando para defender o direito dos trabalhadores e camponeses de administrar sua pátria. Nós estamos lutando para defender o povo do possível retorno da fome e do aumento de preços. Nós lutamos para criar uma unida, internacional e fraterna república dos trabalhadores e camponeses, para destruir donos de propriedade privada e os predadores ricos e assim pôr um fim à guerra de uma vez por todas.


Nossa guerra – a guerra dos vermelhos contra os brancos – é a revolta dos oprimidos contra os responsáveis pelo derramamento de sangue. Nosso grito é e continuará a ser “Guerra contra a guerra! Vida longa ao trabalho produtivo pacífico em nome de todos os trabalhadores!”.


Boletim do Soviete de Kharkov e do Comitê Executivo Provincial dos Sovietes dos Trabalhadores, Camponeses e Representantes do Exército Vermelho

7 de maio de 1919



Fonte: marxists.org

 

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