V. I. Lenine
15 de Agosto de 1920
Publicado em alemão a 31 de Agosto de 1920 no n.° 396 do jornal Die Rot Fahne, de Viena. Publicado pela primeira vez em russo no ano de 1925. Encontra-se in Obras, t. XXXII, pp. 444-453.
O Partido Comunista Austríaco decidiu boicotar as eleições para o parlamento democrático-burguês. O II Congresso da Internacional Comunista, realizado recentemente, reconheceu justa a táctica da participação dos comunistas nas eleições para os parlamentos burgueses e nestes parlamentos. Baseando-me nas informações dos delegados do Partido Comunista Austríaco, não tenha dúvidas de que a decisão da Internacional Comunista estará para esse partido acima de uma resolução de um dos partidos(1). Também não há dúvida de que os social-democratas austríacos, estes traidores do socialismo que se colocaram ao lado da burguesia, se congratularão com a decisão da Internacional Comunista, que difere da decisão do Partido Comunista Austríaco, favorável ao boicote. Mas, está claro, os operários conscientes não prestarão a menor atenção ao júbilo de senhores como os sociais-democratas austríacos, companheiros de armas dos Scheidemann e Noske, dos Albert Thomas e Gompers. O servilismo dos senhores Renner perante a burguesia ficou bem claro, e em todos os países cresce e estende-se, cada vez mais, a indignação dos operários contra os heróis da II Internacional, ou Internacional amarela. Os senhores social-democratas austríacos conduzem-se no parlamento burguês da mesma forma que em todos os demais campos de sua «actividade», inclusive na sua imprensa, como democratas pequeno-burgueses, capazes unicamente de vacilar por falta de carácter, sendo completa a sua dependência efectiva da classe capitalista. Os comunistas vão ao parlamento burguês para denunciar as falsidades duma instituição capitalista podre até à medula, que serve para enganar os operários e os trabalhadores em geral. Há um argumento dos comunistas austríacos contra a participação no parlamento burguês que merece um exame mais atento. Este argumento é o seguinte:
"O parlamento só tem importância para os comunistas como tribuna de agitação. Na Áustria dispomos do Soviete de Deputados Operários como tribuna para agitação. Por isso renunciamos a participar nas eleições para o parlamento burguês. Na Alemanha não existe um Soviete de Deputados que possa ser tomado a sério. Por isso os comunistas alemães seguem outra táctica."
Considero errado este argumento. Enquanto não tivermos força para dissolver o parlamento burguês, devemos atuar contra ele de fora e de dentro. Enquanto um número considerável de trabalhadores — não só os proletários, mas também semiproletários e pequenos camponeses — tenham fé nos instrumentos democrático-burgueses de que se serve a burguesia para enganar os operários, devemos denunciar esse engano precisamente da tribuna que as camadas atrasadas de operários e, em particular, das massas trabalhadoras não proletárias, consideram como a tribuna mais importante e mais autorizada. Enquanto os comunistas não tiverem força para tomar o poder do Estado e fazer com que só os trabalhadores elejam os seus sovietes contra a burguesia, enquanto a burguesia disponha do poder estatal, convocando às eleições as diferentes classes da população, temos o dever de participar nas eleições para realizar a agitação entre todos os trabalhadores, e não exclusivamente entre os proletários. Enquanto no parlamento burguês enganem os operários, ocultando com frases sobre a «democracia» as fraudes financeiras de todo o género de subornos (em nenhum lugar a burguesia pratica com tanta amplitude, como no parlamento burguês, o suborno demasiadamente «subtil» de escritores, deputados, advogados, etc.), os comunistas têm o dever de desmascarar sem descanso o logro, de desmascarar toda a mudança de posição dos Renner & Cia., cada vez que se coloquem ao lado dos capitalistas contra os operários. Fazer este trabalho de desmascaramento da própria tribuna desta instituição que supostamente expressa a vontade do povo, mas que de facto serve para encobrir a burla do povo pelos ricos. É precisamente no parlamento que as relações entre os partidos e fracções burguesas assumem maior relevo e refletem as relações entre todas as classes da sociedade burguesa. Por isso, justamente no parlamento burguês, dentro dele, devem os comunistas esclarecer ao povo a verdade sobre a atitude das classes frente aos partidos, sobre a atitude dos latifundiários perante os jornaleiros, dos camponeses ricos perante os camponeses pobres, do grande capital frente aos empregados e pequenos proprietários, etc. É preciso que o proletariado conheça tudo isto para chegar a compreender todas as desprezíveis e refinadas fraudes do capital, para chegar a influir sobre as massas pequeno-burguesas, sobre as massas trabalhadoras não proletárias. Sem este «conhecimento» o proletariado não pode enfrentar eficazmente as tarefas da ditadura do proletariado, pois também nesse caso a burguesia, da sua nova posição (posição de classe em derrocada), prosseguirá sob outras formas e noutros terrenos a sua política de embuste dos camponeses, de suborno e intimidação dos empregados e de segredo dos seus planos egoístas e sórdidos com frases sobre a «democracia». Não, os comunistas austríacos não se deixarão intimidar pelo júbilo maligno dos Renner e demais lacaios da burguesia. Os comunistas austríacos não temerão reconhecer aberta e diretamente a disciplina proletária internacional. Orgulhamo-nos de estar a resolver as grandes questões da luta dos operários pela sua emancipação, subordinando-nos à disciplina internacional do proletariado revolucionário, levando em consideração a experiência dos operários dos diversos países, tendo presentes os seus conhecimentos e a sua vontade e tornando assim efetiva, na prática (e não em palavras, como os Renner, Fritz Adler e Otto Bauer) a unidade de luta da classe dos operários pelo triunfo do comunismo no mundo inteiro.
Fonte: marxist.org
Notas de rodapé:
(1) A Conferência do Partido Comunista da Áustria, realizada em Setembro de 1920, revogou a decisão, adoptada anteriormente, de boicotar as eleições parlamentares. O Partido apresentou-se às eleições sob a palavra de ordem de «unidade revolucionário da classe operária».
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