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Marx e Engels Sobre a Insurreição

Atualizado: 18 de ago. de 2022

J. V. Stálin 13 de julho de 1906

J.V. Stálin - Obras - 1º vol. - traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.

 

O menchevique N. Kh. acredita que a sorte sorrir aos audazes e... ousa acusar mais uma vez os bolcheviques de blanquismo (vide Símartle (n.º 7) [1a]. Certamente, nisso não há nada de surpreendente. Os oportunistas alemães Bernstein e Vollmar de há muito chamam Kautsky e Bebel de blanquistas. Os oportunistas franceses Jaurès e Millerand de há muito acusam Guesde e Lafargue de blanquismo e de jacobinismo. Não obstante, todos sabem que Bernstein, Millerand, Jaurès e outros são oportunistas, que êles traem o marxismo, enquanto Kautsky, Guesde, Lafargue e outros são marxistas revolucionários. Que há de surpreendente se os oportunistas da Rússia e o seu sequaz N. Kh. imitam os oportunistas da Europa e nos chamam blanquistas? Isso significa sómente que os bolcheviques são, como Kautsky e Guesde, marxistas revolucionários [2a].

Aqui poderíamos terminar o colóquio com N. Kh. Mas ele "aprofunda" a questão e procura demonstrar sua tese. Não o ofendamos, portanto, e tratemos de ouvi-lo. N. Kh. não está de acordo com a seguinte opinião dos bolcheviques: "Digamos [1], o povo das cidades está cheio de ódio ao governo [2], pode sempre levantar-se para a luta, quando se apresentar ocasião. Isso significa que quantitativamente já estamos prontos. Mas isso ainda é insuficiente. Para que a insurreição seja vitoriosa á necessário estabelecer de antemão o plano da luta, elaborar de antemão a tática de combate, é necessário possuir destacamentos organizados, etc." (vide Akhali Tskhovreba, n.º 6) [3a]. N. Kh. não está de acordo com isso. Por que? Porque isso, vejam só, é blanquismo! E assim N. Kh. não quer ter nem uma "tática de combate", nem "destacamentos organizados", nem uma ação organizada: tudo isso, ao que parece, não é essencial, é supérfluo. Os bolcheviques dizem que apenas "o ódio ao governo é insuficiente", que apenas a consciência é "insuficiente", que é preciso também possuir "destacamentos e tática de combate". N. Kh. repele tudo isso, dizendo que é blanquismo. Recordemo-lo e passemos adiante. A N. Kh. não agrada o seguinte pensamento de Lênin: "Devemos recolher a experiência adquirida nas insurreições de Moscou, do Donetz, de Róstov e nas outras insurreições, difundir essa experiência, preparar tenaz e pacientemente novas forças de combate, instruí-las e temperá-las numa série de operações de guerrilhas. A nova explosão talvez não se dê ainda na primavera, mas dar-se-á e com toda probabilidade não está muito longe. Devemos enfrentá-la armados, militarmente organizados, capazes de operações ofensivas resolutas" (vide Partíinie Izvéstia [4a]). N. Kh. não está de acordo com esse pensamento de Lênin. Por que? Porque isso, vejam só, é blanquismo! Portanto, segundo N. Kh. não devemos "recolher a experiência adquirida na insurreição de dezembro" e não devemos "difundi-la". Na verdade, a explosão se aproxima, mas segundo N. Kh. não devemos "enfrentá-la armados", não devemos preparar-nos para "operações ofensivas resolutas". Por que? Porque, com certeza, desarmados e despreparados venceremos mais depressa! Os bolcheviques dizem que se pode aguardar a explosão e que por isso é nosso dever prepararmo-nos para ela, tanto do ponto de vista da consciência como do ponto de vista do armamento. N. Kh. sabe que a explosão é provável, mas exceto a agitação verbal, não admite outra coisa e duvida por isso da necessidade do armamento, julga-o supérfluo. Os bolcheviques dizem que é necessário incutir consciência e organização à insurreição, que se iniciou de maneira espontânea e desarticulada. N. Kh. não reconhece nem sequer isso: vejam só, é blanquismo. Os bolcheviques dizem que em um determinado momento são necessárias "operações ofensivas resolutas". A N. Kh. não agradam nem a decisão, nem as operações ofensivas: tudo isto, vejam só, é blanquismo. Recordemos tudo isso e vejamos qual era a atitude de Marx e Engeis em relação à insurreição armada. Eis o que escrevia Marx depois de 1850: "Uma vez começada a insurreição, deve-se agir com a maior decisão, passar à ofensiva. A defensiva é a morte de qualquer insurreição armada... É preciso surpreender os adversários enquanto suas forças estão dispersas e obter novos sucessos, embora pequenos, mas todos os dias; é preciso conservar o ascendente moral que vos foi dado pela primeira sublevação vitoriosa; reunir assim em torno de vós aqueles elementos vacilantes, que seguem sempre o impulso mais forte e se enfileiram sempre do lado que obtém sucessos; deveis obrigar o inimigo a retirar-se antes que tenha podido reunir suas forças contra vós: em suma, segui as palavras de Danton, o maior mestre de tática revolucionária até agora conhecido: De l'audace, de l'audace encore de l'audace" ["Audácia, audácia, sempre audácia"] (vide Karl Marx, Ensaios históricos, pág. 95) [5a]. Assim fala o maior dos marxistas, Karl Marx. Como vedes, segundo Marx, quem deseja a vitória da insurreição deve tomar o caminho da ofensiva. Porém sabemos que quem toma o caminho da ofensiva deve possuir não só armamento como também conhecimentos militares e destacamentos adestrados: sem isso a ofensiva é impossível. Quanto às operações ofensivas audazes, elas são, segundo Marx, a carne e o sangue de qualquer insurreição. N. Kh., pelo contrário, zomba tanto das operações ofensivas audazes, como da política de ofensiva e dos destacamentos organizados e da difusão dos conhecimentos militares; tudo isso, vejam só, é blanquismo! Segue-se daí que N. Kh. é marxista e Marx blanquista! Pobre Marx! Pudesse ele levantar-se do túmulo e ouvir o balbucio de N. Kh.! E que diz Engels da insurreição? Engels, numa passagem de um opúsculo seu, falando da insurreição espanhola, em polêmica com os anarquistas, diz: "Essa insurreição, embora iniciada estouvadamente, teria tido grandes probabilidades de vitória, se tivesse sido guiada com um mínimo de inteligência, ainda que só o fosse à maneira das revoltas militares espanholas, em que a guarnição de uma cidade se subleva, marcha sobre a cidade mais próxima, atrai para si a guarnição dessa cidade já de antemão trabalhada e, engrossando-se como avalanche, lança-se contra a capital, até que um combate favorável ou a passagem para o seu lado das tropas enviadas para combatê-la decida a vitória. Tal método era nesse caso particularmente apropriado. Já há tempo os insurretos estavam por toda a parte organizados em batalhões voluntários (ouvi, companheiros, Engels fala de batalhões!); na verdade sua disciplina era péssima, mas por certo não pior que nos restos do velho exercito espanhol, em sua maior parte desagregado. A única tropa segura do governo eram os gendarmes (guardias civiles), mas estavam disseminados por todo o país. Devia-se antes de mais nada impedir a concentração dos contingentes de gendarmes e isso só era possível conseguir tomando-se a ofensiva e arriscando sair a campo aberto... (atenção, atenção, companheiros!). Mas se desejavam vencer não havia outro meio...". Mais adiante Engels censura os bakuninistas por haverem elevado a principio o que se deveria ter evitado: "precisamente a fragmentação e a dispersão das forças revolucionárias, que permitiam aos exércitos do governo esmagar uma insurreição após outra" (vide Os bakuninistas em trabalho de Engels) [6a]. Assim fala o conhecido marxista Friedrich Engels... Batalhões organizados, política de ofensiva, organização da insurreição, união das diversas insurreições: eis o que é indispensável, segundo Engels, para a vitória da insurreição. Segue-se daí que N. Kh. é marxista e Engels é blanquista! Pobre Engels! E isso não seria ainda nada. Afirmamos que a tática proposta por N. Kh. subestima e nega de fato a importância do armamento, dos destacamentos vermelhos e dos conhecimentos militares. Essa é a tática da insurreição desarmada. Essa tática impele-nos à "derrota de dezembro". Por que em dezembro não tínhamos armas, destacamentos, conhecimentos militares, etc.? Porque no Partido estava muito difundida a tática de companheiros como N. Kh.... Mas tanto o marxismo como a vida real desmentem semelhante tática desarmada. Assim falam os fatos. Assinado: Koba.


 

Notas do autor: [1] Aqui N. Kh. substituiu a palavra "digamos" pela palavra "quando", o que modifica um tanto o sentido.

[2] Aqui N. Kh. omitiu as palavras "ao governo" (vide "Akhali Tskhovreba", n.º 6).

Notas do Editor:

[1a] Simartle (A verdade), diário político-literário dos mencheviques georgianos; surgiu em Tíflis no ano de 1906.

[2a] K. Kautsky e J. Guesde naquela época não haviam passado ainda para o oportunismo. Sob o impulso da revolução russa de 1905-1907, que exerceu uma enorme influência sobre o movimento revolucionário internacional e em particular sobre a classe operária da Alemanha, Kautsky se pronunciou sobre várias questões no espírito da social-democracia revolucionária.

[3a] Akhali Tskhovreba (Vida Nova), diário bolchevique publicado em Tíflis de 20 de junho a 14 de julho de 1906, dirigido por Stálin. Colaboradores permanentes do jornal eram M. Davitachvili, G. Télia, G Kikodze, etc. Ao todo, foram publicados 20 números.

[4a] A citação é tirada do artigo de Lênin "A situação atual da Rússia e a tática do partido operário" (Obras, cit., vol. 10, págs. 98-99), publicado pela primeira vez em Patíinie Izvéstia (Notícias do Partido), órgão do Comitê Central Unificado do P. O. S. D. R., do qual foram publicados ilegalmente dois números em Petersburgo nas vésperas do quarto Congresso ("de Unificação") do Partido.

[5a] K. Marx - F.Engels, "O ano de 1848 na Alemanha e na França", (Il 1848 ia Germania e in Francia), Edições Rinaseita, Roma, 1948, pág. 99.

[6a] F. Engels, Die Bakunisten an der Arbeit (Os bakuninistas em trabalho), publicado no Volksstaat, 31 de outubro, 2 e 5 de novembro de 1873.

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