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Resposta a uma Estudante Estadunidense sobre a Guerra Fria

Yuri Andropov 19 de abril de 1983 Titulo Original: "Resposta a uma Estudante Americana"

Nota Editorial à carta de Andropov


Sabemos que após a morte de Josef Stalin e ascensão de Nikita Kruschev ao cargo de Secretário Geral do PCUS e presidente do Conselho de Ministros de 1958 à 1964, a União Soviética aprofundou-se no revisionismo, onde iniciou-se uma guinada cada vez mais à direita dos membros de alto escalão do partido e uma retomada lenta e gradual ao capitalismo.

Contudo, o então chefe da KGB, Yuri Andropov, era uma pessoa que estava à esquerda dos revisionistas, mais próximo do pensamento do partido bolchevique de Lenin e Stalin. Apesar de estar na linha mais à esquerda do partido, Andropov assume o cargo de Secretário Geral em um período conturbado da URSS (1982-1984), quando o revisionismo de Kruschev e Brejnev já havia feito várias reformas nas políticas interna e externa da URSS.

O objetivo deste prefácio é apenas alertar ao leitor da carta sobre o período de desmonte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e, apesar de Andropov ter promovido boas reformas, ele não conseguiria impedir o colapso da URSS caso ficasse mais tempo no cargo. Devemos sempre lembrar também sempre fazer autocrítica sem cairmos no espantalho do anticomunismo.

 

Carta de Samantha Smith:

Caro Sr. Andropov,

Meu nome é Samantha Smith. Eu tenho dez anos de idade. Parabéns pelo seu novo trabalho. Tenho me preocupado com a possibilidade da Rússia e dos Estados Unidos entrarem em uma guerra nuclear. Você vai votar para fazer uma guerra, ou não? Se você não for, por favor, me diga como você vai ajudar a não ter uma guerra. Essa pergunta você não precisa responder, mas eu gostaria de saber por que você quer conquistar o mundo ou pelo menos nosso país. Deus fez o mundo para vivermos juntos em paz e não para lutarmos.

Sinceramente,

Samantha Smith

 

Carta de Andropov:


Querida Samantha,

Recebi sua carta, que é como muitas outras que chegaram a mim recentemente de seu país e de outros países ao redor do mundo.

Parece-me - posso dizer por sua carta - que você é uma garota corajosa e honesta, semelhante a Becky, a amiga de Tom Sawyer no famoso livro de seu compatriota Mark Twain. Esse livro é bastante conhecido e amado em nosso país por todos os meninos e meninas.

Você escreve que está ansiosa com a possibilidade de haver uma guerra nuclear entre nossos dois países. E você pergunta se estamos fazendo qualquer coisa para que a guerra não aconteça.

Sua pergunta é a mais importante que qualquer homem pensante pode propor. Vou responder a você com seriedade e honestidade.

Sim, Samantha, nós na União Soviética estamos tentando fazer de tudo para que não haja guerra na Terra. É isso o que todo homem Soviético deseja. Foi isso o que nos ensinou o grande fundador do nosso estado, Vladimir Lenin.

O povo soviético sabe muito bem como a guerra é terrível. Quarenta e dois anos atrás, a Alemanha Nazista, que ambicionou por supremacia sobre todo o mundo, atacou nosso país, queimou e destruiu muitos milhares de nossas cidades e vilas, matou milhões de homens, mulheres e crianças Soviéticas.


Nessa guerra, que terminou com a nossa vitória, estávamos em aliança com os Estados Unidos: juntos lutamos pela libertação de muitas pessoas dos invasores Nazistas. Espero que você saiba sobre isso pelas suas aulas de história na escola. E hoje nós queremos muito viver em paz, negociar e cooperar com todos os nossos vizinhos nesta terra - com os que estão longe e com os que estão próximos. E certamente com um país tão grande como os Estados Unidos da América.

Na América e em nosso país, existem armas nucleares - armas terríveis que podem matar milhões de pessoas em um instante. Mas não queremos que sejam usadas. É precisamente por isso que a União Soviética declarou solenemente em todo o mundo que nunca - nunca - irá usar armas nucleares primeiro contra qualquer país. Em geral, propomos interromper a maior produção delas e proceder à abolição de todos os estoques na terra.

Parece-me que esta é uma resposta suficiente à sua segunda pergunta: "por que você quer promover guerra contra o mundo ou pelo menos aos EUA?" Não queremos nada desse tipo. Ninguém em nosso país - nem trabalhadores, camponeses, escritores ou médicos, nem adultos, nem crianças, nem membros do governo - quer uma guerra, grande ou "pequena".


Nós queremos paz - existe algo com que estamos ocupados: cultivar trigo, construir e inventar, escrever livros e voar em direção ao espaço. Nós queremos paz para nós mesmos e para todos os povos do planeta. Para nossas crianças e para você, Samantha.


Convido você, se seus pais permitirem, a vir ao nosso país, a melhor época sendo este verão. Você descobrirá sobre nosso país, encontrará seus contemporâneos, visitará um acampamento internacional para crianças - "Artek" – junto ao mar. E verá por si mesma: na União Soviética, todos são pela paz e pela amizade entre os povos.


Obrigado por sua carta. Desejo a você tudo de melhor em sua juventude.


Y. Andropov


Fonte: marxist.org

 

Quem foi Yuri Vladimirovitch Andropov?

Secretário-geral do PCUS entre Novembro de 1982 e Fevereiro de 1984. Membro do partido desde 1939, do CC desde 1961, do Politburo desde 1972 (candidato desde 1967), secretário do CC (1962-67). Foi operário do Telégrafo, entra para o trabalho do Komsomol em 1936, tornando-se primeiro secretário do Comité de Oblast de Iaroslavski nos anos seguinte e do CC do Komsomol da República Soviética Carelo-Finlandesa em 1940. Transita para o partido em 1947, como segundo secretário do CC na mesma república e passa para o aparelho central do PCUS em 1951. Foi embaixador na Hungria entre 1954 e 1957 e presidente do KGB entre 1967 e 1982, chegando à cabeça do partido e do Estado, como presidente do Presidium do Soviete Supremo da URSS em 1983. A sua curta passagem de 15 meses pelo poder, parte dos quais já doente, ficou marcada por algumas medidas disciplinadoras no trabalho e de combate à corrupção.

Extraído de: marxist.org

 

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