V. I. Lênin
Maio de 1914
Índice
I. Sobre o "fracionismo"
II. Sobre a Cisão
III. Sobre a Desagregação do Bloco de Agosto
IV. Conselhos de um Conciliador ao «Grupo de Sete»
V. As Concepções Liquidacionistas de Trotsky
As questões do movimento operário contemporâneo são em muitos aspectos questões delicadas - especialmente para os representantes do dia de ontem (isto é, da etapa histórica que acaba de passar) deste movimento. Isto refere-se, em primeiro lugar, às questões do chamado fracionismo, da cisão, etc. Ouve-se com frequência dos participantes intelectuais no movimento operário pedidos excitados, nervosos, quase histéricos para não tocar nestas questões delicadas. Para os que viveram os longos anos de luta das diferentes correntes entre os marxistas, por exemplo, a partir de 1900-1901, naturalmente podem parecer repetições excessivas muitas discussões sobre o tema destas delicadas questões. Mas os participantes na luta de 14 anos entre os marxistas (e mais ainda os na de 18-19 anos, se contarmos logo a partir dos primeiros sintomas do aparecimento do «economismo») já não são atualmente muitos. A imensa maioria dos operários, que integram nos nossos dias as fileiras dos marxistas, ou não se lembram da velha luta, ou então desconhecem-na por completo. Para esta imensa maioria (como o demonstrou também, entre outras coisas, o inquérito da nossa revista1 ) as questões delicadas apresentam um interesse especialmente grande. E nós pretendemos deter-nos nestas questões, levantadas como que de novo (e para a jovem geração de operários é efetivamente de novo) pela «revista operária não fraccionária» de Trotsky Borbá.
I. Sobre o "Fracionismo"
Trotsky chama à sua nova revista «não fraccionaria». Coloca esta palavra em primeiro lugar nos anúncios, sublinha-a de todas as maneiras nos artigos de fundo tanto da própria Borbá como do liquidacionista Sévernaia Rabótchaia Gazeta[N299], que publicou um artigo de Trotsky sobre a Borbá antes do aparecimento desta. O que é isso de «não fracionismo»? A «revista operária» de Trotsky é uma revista de Trotsky para operários, pois na revista não há nem sinal de iniciativa operária, nem de ligação com as organizações operárias. Desejando tornar-se popular, Trotsky explica aos leitores na sua revista para operários as palavras «território», «fator», etc. Muito bem. Porque não explicar também aos operários a palavra «não fracionismo»? Será que ela é mais compreensível do que as palavras território e fator? Não. Não é isso. É que com a etiqueta «não fracionismo» os piores representantes dos piores restos do fracionismo induzem em erro a jovem geração de operários. Vale a pena determo-nos para explicar isto. O fracionismo é o principal traço distintivo do partido social-democrata numa determinada época histórica. Qual exatamente? De 1903 a 1911. Para explicar do modo mais palpável em que consistia a essência do fracionismo, é preciso recordar as condições concretas de, pelo menos, 1906 e 1907. Então o partido era um único, não havia cisão, mas havia fracionismo, isto é, existiam de fato num único partido duas fracções, duas organizações de facto separadas. As organizações operárias na base eram únicas, mas para cada questão séria as duas fracções elaboravam duas tácticas; os seus defensores discutiam entre si nas organizações operárias únicas (por exemplo, quando da discussão da palavra de ordem: ministério da Duma ou democrata-constitucionalista em 1906 ou quando das eleições para o Congresso de Londres em 1907), e as questões eram resolvidas por maioria: uma fracção foi derrotada no Congresso único de Estocolmo (1906), a outra no Congresso único de Londres (1907)[N300]. Estes fatos são do conhecimento geral da história do marxismo organizado na Rússia. Basta recordar estes factos do conhecimento geral para se ver a clamorosa mentira que é difundida por Trotsky. Desde 1912, há já mais de dois anos, não existe na Rússia fracionismo entre os marxistas organizados, não existem discussões sobre táctica em organizações únicas, em conferências e congressos únicos. Existe uma ruptura completa entre o partido, que declarou formalmente em Janeiro de 1912 que os liquidacionistasnão fazem parte dele, e os liquidacionistas(1).Trótski chama frequentemente a este estado de coisas «cisão», e sobre esta denominação falaremos em especial mais tarde. Mas continua a ser um facto indubitável que a palavra: «fraccionismo» afasta-se da verdade. Esta palavra, como já dissemos, é uma repetição, uma repetição não crítica, insensata, absurda, daquilo que estava certo ontem, isto é, numa época já passada. E quando Trotsky nos fala sobre o «caos da luta fraccionária» (ver n.° 1, pp. 5, 6 e muitas outras), torna-se imediatamente claro qual precisamente o passado caduco que fala pela sua boca. Olhai para o estado de coisas atual do ponto de vista do jovem operário russo, como são agora 9/10 dos marxistas organizados da Rússia. Ele vê diante de si três manifestações de massas de diferentes concepções ou correntes no movimento operário: os «pravdistas», reunidos em torno de um jornal com uma tiragem de 40.000 exemplares[N301], os «liquidacionistas» (15.000 exemplares) e os populistas de esquerda (10.000 exemplares). Os dados sobre a tiragem explicam ao leitor o carácter de massas de uma determinada prédica. Pergunta-se, a que propósito se fala aqui de «caos»? Trotsky gosta das frases sonantes e ocas, isto é sabido, mas a palavrinha «caos» não é apenas uma frase, é além disso a transplantação (melhor, a vã tentativa de transplantação) para o terreno russo da época atual das relações do estrangeiro da época de ontem. Eis o fundo da questão. Não existe «caos» algum na luta dos marxistas com os populistas. Isso, esperamos, mesmo Trotsky não se decidirá a afirmar. A luta dos marxistas com os populistas dura há mais de 30 anos, desde o próprio nascimento do marxismo. A causa desta luta é a divergência radical de interesses e de pontos de vista de duas classes diferentes, o proletariado e o campesinato. O «caos», se é que existe em algum sítio, só existe na cabeça de excêntricos que não compreendem isto. Que fica então? O «caos» da luta dos marxistas com os liquidacionistas? Mais uma vez não é verdade, pois não se pode chamar caos à luta com a corrente que foi reconhecida por todo o partido como corrente e condenada desde 1908. E quem quer que se preocupe minimamente com a história do marxismo na Rússia sabe que o liquidacionismo está indissolúvel e estreitamente ligado, mesmo no que diz respeito aos seus dirigentes e participantes, ao «menchevismo» (1903-1908) e ao «economismo» (1894-1903). Assim, também aqui temos diante de nós quase vinte anos de história. Referir-se à história do próprio partido como a um «caos» significa ter um imperdoável vazio na cabeça. Mas olhai para a situação atual do ponto de vista de Paris ou de Viena. Tudo muda imediatamente. Além dos «pravdistas» e dos «liquidacionistas» existem ainda pelo menos cinco «fracções» russas, isto e, grupos distintos que se pretendem incluir a si próprios no mesmo partido social-democrata: o grupo de Trotsky, os dois grupos Vperiod[N302], os «bolcheviques-partidistas» e os «mencheviques-partidistas»[N303]. Em Paris e em Viena (cito como exemplo dois centros particularmente grandes) todos os marxistas o sabem muito bem. E aqui em determinado sentido Trotsky tem razão: isto é que é efetivamente fracionismo, isto é que é verdadeiramente caos! «Fracionismo», isto é, a unidade nominal (em palavras todos são de um só partido) e a fragmentação real (de facto todos os grupos são independentes e entram uns com os outros em negociações e acordos, como potências soberanas). O «caos», isto é, a falta:
de dados objetivamente admissíveis verificáveis da ligação destas fracções com o movimento operário na Rússia e,
a falta de material para julgar da verdadeira fisionomia ideológica e política destas fracções. Tomai o período de dois anos inteiros - 1912 e 1913. Como é sabido, foram anos de reanimação e ascenso do movimento operário, em que qualquer corrente ou orientação com uma aparência minimamente de massas (e na política só conta o que é de massas) não podia deixar de se reflectir nas eleições para a IV Duma, no movimento grevista, nos jornais legais, nos sindicatos, na campanha dos seguros, etc. Nenhuma, nem uma só destas cinco frações no estrangeiro fez absolutamente nada de marcante durante todo este período de dois anos, nem numa só das manifestações acima indicadas do movimento operário de massas na Rússia!
Este é um fato que qualquer pessoa pode verificar com facilidade. E este facto comprova que tínhamos razão ao falar de Trotsky como de um representante dos «piores restos do fracionismo». Não fracionista em palavras, Trotsky, como sabem todos os que conhecem minimamente o movimento operário na Rússia, é o representante da «fracção de Trotsky» — aqui há fracionismo, pois são claros os seus dois indícios essenciais:
reconhecimento nominal da unidade e
isolamento de grupo de facto. Aqui há um resto de fracionismo, pois é impossível descobrir aqui algo de sério no que se refere às ligações com o movimento operário de massas da Rússia.
Aqui há, por fim, a pior espécie de fracionismo, pois não há nenhuma precisão ideológico-política. Esta precisão não pode ser negada nem aos pravdistas (até o nosso decidido adversário L. Mártov reconhece a nossa «coesão e disciplina» em torno de decisões formais de conhecimento geral sobre todas as questões), nem aos liquidacionistas (eles, pelo menos os mais destacados, têm uma fisionomia muito determinada, precisamente liberal e não marxista). Não se pode negar uma certa precisão a uma parte das frações que, como a fração de Trotsky, têm existência real exclusivamente do ponto de vista vieno-parisiense, mas de modo algum do russo. Por exemplo, são determinadas as teorias machistas[N304]do grupo machista Vperiod; é determinada a negação decidida destas teorias e a defesa do marxismo, além da condenação teórica dos liquidacionistas, nos «mencheviques-partidistas». Mas em Trotsky não existe precisão ideológico-política alguma, pois a patente do «não fracionismo» significa apenas (já veremos isso mais pormenorizadamente) uma patente de plena liberdade de passar de uma fração para outra e inversamente.
Resultado:
Trotsky não explica nem compreende o significado histórico das divergências ideológicas entre as correntes e fracções no marxismo, apesar de estas divergências encherem vinte anos de história da social-democracia e dizerem respeito às questões fundamentais da atualidade (como mostraremos ainda);
Trotsky não compreendeu as particularidades fundamentais do fracionismo, como o reconhecimento nominal da unidade e a fragmentação real;
Sob a bandeira do «não fracionismo» Trotsky defende uma das fracções no estrangeiro, especialmente sem ideias e privadas de base no movimento operário da Rússia.
Nem tudo o que reluz é ouro. Há muito brilho e barulho nas frases de Trotsky, mas conteúdo não.
II. Sobre a Cisão
«Se entre vós, pravdistas, não existe fracionismo, isto é, reconhecimento nominal da unidade com fragmentação de fato, existe outra coisa pior — cisionismo», objetar-nos-ão. É precisamente assim que fala Trotsky que, não sabendo meditar sobre os seus pensamentos e ligar ponta com ponta das suas frases, ora vocifera contra o fracionismo, ora grita: «a cisão faz uma conquista suicida após outra» (n.° 1, p. 6).
O sentido desta declaração só pode ser um: «os pravdistas fazem uma conquista após outra» (este é um facto objetivo e verificável, estabelecido com o estudo do movimento operário de massas da Rússia pelo menos nos anos de 1912 e 1913), mas eu, Trotsky, condeno os pravdistas (1) como cisionistas e (2) como políticos suicidas. Analisemos isto. Em primeiro lugar agradeçamos a Trotsky: há pouco (de Agosto de 1912 até Fevereiro de 1914) ele seguia F. Dán que, como é sabido, ameaçava e exortava a «matar» o antiliquidacionismo. Agora Trotsky não ameaça «matar» a nossa orientação (e o nosso partido - não se zangue, cidadão Trotsky, pois é verdade!), mas apenas prediz que ela própria se matará! Isto é muito mais suave, não é verdade? Isto é quase «não fraccionário», não é assim? Mas deixemos os gracejos de lado (ainda que o gracejo seja o único meio de réplica suave à insuportável verborreia de Trotsky). «Suicídio» é simplesmente uma frase, uma frase oca, apenas «trotskismo». Cisionismo é uma acusação política séria. Esta acusação é repetida contra nós de mil maneiras tanto pelos liquidacionistas como por todos os grupos, acima enumerados, indubitavelmente existentes do ponto de vista de Paris e de Viena. E todos repetem esta acusação política séria de um modo espantosamente não sério. Olhai para Trotsky. Ele reconheceu que «a cisão faz (leia-se: os pravdistas fazem) uma conquista suicida após outra». E acrescenta a isso:
«Numerosos operários avançados em estado de plena desorientação política transformam-se eles próprios com frequência em ativos agentes da cisão» (n.° 1, p. 6).
Poder-se-á encontrar exemplos de uma atitude menos séria para com a questão do que aquela que se revela nestas palavras?
Vós acusais-nos de cisionismo, e entretanto não vemos diante de nós na arena do movimento operário da Rússia senão o liquidacionismo. Quer dizer, vós considerais errada a nossa atitude para com o liquidacionismo? E de fato, todos os grupos no estrangeiro acima enumerados, por mais que se distingam uns dos outros, coincidem precisamente em que consideram a nossa atitude para com o liquidacionismo errada, «cisionista». Nisso consiste também a afinidade (e a essencial proximidade política) de todos estes grupos com os liquidacionistas.
Se a nossa atitude para com o liquidacionismo é errada no plano teórico, dos princípios, Trotsky deveria tê-lo dito diretamente, declarado precisamente, indicado sem rodeios, em que vê esse erro. Mas Trotsky evita há anos este ponto fundamental.
Se na prática, na experiência do movimento, é refutada a nossa atitude para com o liquidacionismo, há que analisar essa experiência, o que Trotsky também não faz. «Numerosos operários avançados — reconhece ele — transformam-se em ativos agentes da cisão» (leia-se: ativos agentes da linha, da tática e do sistema de organização pravdistas).
Porque é, pois, que se dá o fenómeno tão triste, confirmado, segundo reconhece Trotsky, pela experiência, de os operários avançados, e além disso numerosos, serem pelo Pravda?
Em consequência da «plena desorientação política» desses operários avançados, responde Trotsky.
A explicação, é desnecessário dizer, é extremamente lisonjeira para Trotsky, para todas as cinco frações no estrangeiro e para os liquidacionistas. Trotsky gosta muito de dar explicações, «com o ar erudito do conhecedor» e com frases pomposas e sonoras, lisonjeiras para Trotsky, dos fenómenos históricos. Se «numerosos operários avançados» se tornam «ativos agentes» de uma linha política e partidária que não se coaduna com a linha de Trotsky, então Trotsky resolve a questão, sem constrangimento, imediata e diretamente: estes operários avançados encontram-se «em estado de plena desorientação política», e ele, Trotsky, evidentemente, «em estado» de firmeza política, clareza e justeza de linha!... E esse mesmo Trotsky, batendo com a mão no peito, fulmina o fracionismo, o espírito de círculo, a tendência própria de intelectuais para impor a sua vontade aos operários!...
Na verdade, ao ler tais coisas, perguntamo-nos involuntariamente se não será de um manicómio que se ouvem tais vozes.
Perante os «operários avançados», a questão do liquidacionismo e da sua condenação foi levantada pelo partido em 1908, e a questão da «cisão» com um grupo bem determinado de liquidacionistas (precisamente: o grupo da Nacha Zariá[N305]), isto é, da impossibilidade de construir o partido de outra forma que não sem este grupo e contra ele, esta última questão foi levantada em Janeiro de 1912, há mais de dois anos. Os operários avançados pronunciaram-se, na sua imensa maioria, precisamente pelo apoio à «linha de Janeiro» (de 1912). O próprio Trotsky reconhece este fato com as palavras sobre as «conquistas» e os «numerosos operários avançados». E Trotsky escapa-se insultando simplesmente esses operários avançados de «cisionistas» e «politicamente desorientados»!
As pessoas que não perderam a razão tirarão destes fatos uma conclusão diferente. Onde a maioria dos operários conscientes se uniu em torno de decisões exatas e precisas, ali há unidade de opinião e ação, ali há espírito de partido e partido.
Onde vimos liquidacionistas, «destituídos dos cargos» pelos operários, ou meia dúzia de grupos no estrangeiro, que em dois anos não demonstraram com nada as suas ligações com o movimento operário de massas da Rússia, aí precisamente reina a desorientação e o cisionismo. Ao tentar agora convencer os operários a não cumprir as decisões daquele «todo» que é reconhecido pelos marxistas-pravdistas, Trotsky tenta desorganizar o movimento e provocar a cisão. Estas tentativas são impotentes, mas há porém que desmascarar os guias de grupos intelectuais que ultrapassaram os limites da sua presunção, os quais, provocando a cisão, gritam sobre a cisão, os quais, sofrendo durante mais de dois anos uma derrota completa perante os «operários avançados», cospem com incrível descaramento nas decisões e na vontade destes operários avançados, chamando-lhes «politicamente desorientados». Pois tudo isso são métodos próprios de Nozdriov ou de Judaszinho Golovliov[N306]. E, na nossa função de publicistas, nós, respondendo aos repetidos gritos sobre a cisão, não nos cansaremos de repetir os dados exatos, não refutados e irrefutáveis. Na II Duma havia na cúria operária 47 % de deputados bolcheviques, na III 50%, na IV 67%. Eis onde está a maioria dos «operários avançados», eis onde está o partido, eis onde está a unidade de opinião e de ação da maioria dos operários conscientes. Os liquidacionistas objetam (ver Búlkine, L. M., no n.° 3 da Nacha Zariá) que nós nos servimos de argumentos baseados nas cúriasstolípinianas. Esta é uma objecção insensata e de má-fé. Os alemães medem os seus êxitos por eleições realizadas sob a lei eleitoral bismarckiana, que exclui as mulheres. Só loucos podiam censurar por isso os marxistas alemães, que medem os seus êxitos na base da lei eleitoral existente. Sem aprovar de modo algum as suas restrições reaccionárias. Assim também nós, não defendendo as cúrias, nem o sistema de cúrias, medimos os nossos êxitos na base da lei eleitoral existente. As cúrias existiram em todas as três (II, III, IV) Dumas, e dentro de uma e mesma cúria operária, dentro da social-democracia, houve uma deslocação total contra os liquidacionistas. Quem não se quer enganar a si próprio e aos outros deve reconhecer este facto objetivo da vitória da unidade operária contra os liquidacionistas. Outra objeção não é menos «inteligente»; «por um ou outro bolchevique votaram (ou participaram nas eleições) mencheviques e liquidacionistas». Perfeito! Mas não se aplicaria isto também aos 53% de deputados não bolcheviques na II Duma, aos 50% na III Duma, aos 33% na IV Duma? Se fosse possível considerar, em vez dos dados sobre os deputados, os dados sobre os grandes eleitores[N307]ou sobre os representantes eleitorais dos operários, etc, considerá-los-íamos com todo o prazer. Mas tais dados mais pormenorizados não existem e, consequentemente, os «objetores» apenas atiram areia para os olhos do público. E os dados sobre os grupos operários que ajudaram os jornais de diferentes orientações? Em dois anos (1912 e 1913) havia 2801 grupos pelo Pravda e 750 pelo Lutch(2)[N308]. Todos podem verificar estas cifras, e ninguém tentou ainda refutá-las. Onde está então aqui a unidade de ação e de vontade da maioria dos «operários avançados» e onde está a violação da vontade da maioria? O «não-fracionismo» de Trotsky é precisamente o cisionismo no sentido da mais desavergonhada violação da vontade da maioria dos operários.
III. Sobre a Desagregação do Bloco de Agosto
Mas existe ainda outro meio, e muito importante, de verificar a justeza e a veracidade das acusações de cisionismo lançadas por Trotsky. Vós achais que são precisamente os «leninistas» os cisionistas? Muito bem. Admitamos que tendes razão. Mas, se tendes razão, porque é que então todas as outras frações e grupos não demonstraram, sem os «leninistas» e contra os «cisionistas», a possibilidade de unidade com os liquidacionistas?... Se somos nós os cisionistas, porque é que então vós, os unificadores, não vos unificastes entre vós e com os liquidacionistas? Pois com isso teríeis mostrado de fato aos operários a possibilidade da unidade e a sua utilidade!...
Recordemos a cronologia.
Em Janeiro de 1912 os «cisionistas» «leninistas» declaram que são o partido sem liquidacionistas e contra eles.
Em Março de 1912 contra estes «cisionistas» unificam-se nas suas folhas russas e nas páginas do Vorwärts, jornal social-democrata alemão, todos os grupos e «frações»: liquidacionistas, trotskistas, vperiodistas, «bolcheviques-partidistas» «mencheviques-partidistas». Todos juntos em boa harmonia, unanimemente, coordenados, de uma só voz, insultam-nos de «usurpadores», «mistificadores» e de outros qualificativos não menos ternos e carinhosos. Muito bem, senhores! Mas nada teria sido mais fácil para vós do que unir-vos contra os «usurpadores» e dar aos «operários avançados» um exemplo de unidade! Será que os operários avançados, se tivessem visto por um lado a unidade de todos contra os usurpadores, a unidade tanto dos liquidacionistas como dos não liquidacionistas, e, por outro lado, apenas os «usurpadores», os «cisionistas», etc, não teriam apoiado os primeiros? Se as divergências são apenas inventadas ou exageradas, etc, pelos «leninistas», e de fato é possível a unidade dos liquidacionistas, dos plekhanovistas, dos vperiodistas, dos trotskistas, etc, porque é que não o demonstrastes em dois anos com o vosso exemplo? Em Agosto de 1912 reuniu-se a conferência dos «unificadores». Logo começou a divisão: os plekhanovistas negaram-se por completo a ir, os vperiodistas foram mas saíram com protestos e com o desmascaramento do carácter fictício de todo esse empreendimento. «Unificaram-se» os liquidacionistas, os letões, os trotskistas (Trotsky e Semkóvski), os caucasianos, o grupo de sete. Unificaram-se? Nós declarámos já então que não, que isso era apenas uma camuflagem do liquidacionismo. Desmentiram-nos os acontecimentos? Exatamente um ano e meio depois, em Fevereiro de 1914, verifica-se:
Que o grupo de sete se desagrega — Buriánov afasta-se dele.
Que no novo «grupo de seis» que ficou Tchkheídze e Tulíakov ou outro qualquer não conseguem pôr-se de acordo sobre a resposta a Plekhánov. Declaram na imprensa que lhe vão responder, mas não podem responder.
Que Trotsky, desaparecido realmente há já muitos meses do Lutch, se separa, editando a «sua» revista: a Borbá. Chamando a esta revista «não fracionária», Trotsky diz deste modo claramente (claramente para todos os que conheçam minimamente o assunto) que a Nacha Zariá e o Lutch se revelaram na opinião dele, de Trotsky, unificadores «fracionistas», isto é, maus.
Se você é unificador, caro Trotsky, se você declara ser possível a unidade com os liquidacionistas, se você se mantém juntamente com eles na posição das «ideias fundamentais, formuladas em Agosto de 1912» (Borbá n.° 1, p. 6, Da redacção), porque é que então você próprio não se unificou com os liquidacionistas na Nacha Zariá e no Lutch?
Quando no Sévernaia Rabótchaia Gazeta, ainda antes do aparecimento da revista de Trotsky, saiu a venenosa nota sobre a «não esclarecida» fisionomia da revista e de que «nos círculos marxistas se falava bastante» sobre ela, o Put Právdi (n.° 37)(3), como é natural, teve de desmascarar a mentira: «nos círculos marxistas falava-se» da nota secreta de Trotsky contra os lutchistas; a fisionomia de Trotsky e o seu afastamento do Bloco de Agosto estão plenamente «esclarecidos».
4. Án, conhecido chefe dos liquidacionistas caucasianos, que se pronunciara contra L. Sedov (e recebera por isso uma repreensão pública de F. Dán e C.a), aparece agora na Borbá. Fica «não esclarecido» se os caucasianos desejam ir agora com Trotsky ou com Dán.
5. Os marxistas letões, que eram a única organização plenamente incontestável no «Bloco de Agosto», afastaram-se formalmente dele, declarando (1914) na resolução do seu último congresso, que:
«a tentativa por parte dos conciliadores de se unificarem a qualquer preço com os liquidacionistas (conferência de Agosto de 1912) revelou-se inútil, e os próprios unificadores caíram na dependência ideológico-politica dos liquidacionistas».
Isto foi declarado, depois de uma experiência de ano e meio, por uma organização que se mantém ela própria numa posição neutral, não desejando entrar em ligação com nenhum dos dois centros. Tanto maior peso deve ter para Trotsky esta resolução de pessoas neutrais!
Já chega, parece?
As pessoas que nos acusavam de cisionismo, de não querermos ou não sabermos entender-nos com os liquidacionistas, não se entenderam elas próprias com eles. O Bloco de Agosto revelou-se uma ficção e desagregou-se.
Escondendo aos seus leitores esta desagregação Trotsky engana-os.
A experiência dos nossos adversários demonstrou que temos razão, demonstrou a impossibilidade de trabalhar com os liquidacionistas.
IV. Conselhos de um Conciliador ao «Grupo de Sete»
O artigo de fundo do n.° 1 da Borbá, A Cisão da Fracção na Duma, contém conselhos do conciliador aos sete deputados liquidacionistas (ou que vacilam para o lado do liquidacionismo) da Duma de Estado. A chave destes conselhos é a seguinte frase:
«dirigir-se ao grupo de seis em primeiro lugar em todos os casos em que é necessário chegar a acordo com outras frações» (p. 29).
Eis o conselho sensato que entre outras coisas tem pelos vistos o efeito de provocar divergências entre Trotsky e os liquidacionistas-lutchistas. Desde o próprio início da luta das duas frações na Duma, depois da resolução da conferência de Verão (1913)[N309], os pravdistas mantiveram precisamente este ponto de vista. A fração operária social-democrata da Rússia também depois da divisão declarou mais de uma vez na imprensa que continua a manter-se nesta posição, apesar das repetidas recusas dos «sete».
Desde o próprio início, desde a resolução da conferência de Verão, nós pensámos e pensamos que os acordos sobre as questões do trabalho na Duma são desejáveis e possíveis: se tais acordos foram praticados mais de uma vez com os democratas camponeses pequeno-burgueses (os trudoviques), eles são naturalmente tanto mais possíveis e necessários com os políticos operários pequeno-burgueses, liberais.
Há que não exagerar as divergências, há que encarar a realidade de frente: o «grupo de sete» são pessoas que vacilam para o lado do liquidacionismo, que ontem seguiam completamente Dán, hoje olham ansiosamente de Dán para Trotsky e vice-versa. Os liquidacionistas são um grupo de legalistas que se afastaram do partido e que fazem uma política operária liberal. Dada a sua negação da «clandestinidade», nem sequer se pode falar de unidade com este grupo nos problemas da construção do partido e do movimento operário. Quem pensa de outra forma está profundamente enganado, não tem em conta a profundidade das transformações ocorridas depois de 1908.
Mas acordos com este grupo fora do partido ou próximo do partido sobre questões isoladas são, naturalmente, admissíveis: nós devemos sempre obrigar também este grupo, assim como os trudoviques, a fazer a escolha entre a política operária (pravdista) e a liberal. Por exemplo, na questão da luta pela liberdade de imprensa revelaram-se claramente nos liquidacionistas vacilações entre a colocação liberal da questão, negando ou esquecendo a imprensa não censurada, e a política contrária, operária.
No quadro da política da Duma, onde não são levantadas diretamente as questões mais importantes, extra-Duma, os acordos com os sete deputados operários liberais são possíveis e desejáveis. Neste ponto Trotsky passou dos liquidacionistas para a posição da conferência de Verão (1913) do partido. Só que não se deve esquecer que, do ponto de vista do grupo fora do partido, entende-se por acordo algo completamente diferente do que habitualmente entendem por isso as pessoas do partido. Para as pessoas sem partido o «acordo» na Duma é a «elaboração da resolução ou da linha táticas». Para as pessoas do partido o acordo é a tentativa de atrair outros para a realização da linha do partido. Por exemplo, os trudoviques não têm partido. Entendem por acordo a «livre», por assim dizer, «elaboração» de uma linha, hoje com os democratas-constitucionalistas, amanhã com os sociais-democratas. Ao contrário, nós entendemos por acordo com os trudoviques uma coisa completamente diferente: nós temos decisões do partido sobre todas as questões importantes de tática, e nunca nos afastaremos destas decisões; entrar em acordo com os trudoviques significa para nós atraí-los para o nosso lado, convencê-los da nossa razão, não renunciar às ações comuns contra os cem-negros e contra os liberais. Até que ponto Trotsky se esqueceu (não foi em vão que ele esteve com os liquidacionistas!) desta diferença elementar entre os acordos do ponto de vista do partido e sem partido, mostra-o a seguinte divagação sua:
«É necessário que pessoas de confiança da Internacional reúnam ambas as partes da nossa representação parlamentar cindida e examinem com elas aquilo que as une e aquilo que as cinde... Pode ser elaborada uma resolução tática pormenorizada que formule a bases da tática parlamentar...» (n.° 1, pp. 29-30).
Eis uma imagenzinha característica e típica da colocação liquidacionistas da questão! O partido é esquecido pela revista de Trotsky: valerá a pena, com efeito, lembrar semelhante ninharia? Quando na Europa (e Trotsky gosta de falar fora de propósito de europeísmo) chegam a acordo ou se unificam diferentes partidos, as coisas passam-se assim: os seus representantes encontram-se e esclarecem em primeiro lugar os pontos de divergência (precisamente aquilo que a Internacional colocou na ordem do dia para a Rússia, não incluindo de modo algum na resolução a afirmação irrefletida de Kautsky de que «o velho partido não existe»). Uma vez esclarecidos os pontos de divergência, os representantes estabelecem que decisões (resoluções, condições, etc.) sobre questões de tática, de organização, etc, devem ser apresentadas aos congressos de ambos os partidos. Se se consegue estabelecer um projeto de decisões comuns, os congressos decidem adotá-las ou não; se se estabelecem propostas diferentes, da mesma maneira os congressos de ambos os partidos as examinam em definitivo. Para os liquidacionistas e para Trotsky são «simpáticos» apenas os modelos europeus de oportunismo, mas de forma alguma os modelos de espírito de partido europeu. A «resolução tática pormenorizada» será elaborada pelos deputados da Duma!! Os «operários avançados» russos, com os quais não é por acaso que Trotsky está tão descontente, podem ver claramente neste exemplo até que ponto chega em Viena e em Paris o ridículo projetismo dos grupinhos no estrangeiro, que convenceram mesmo Kautsky de que na Rússia «não há partido». Mas se às vezes se consegue enganar os estrangeiros neste ponto, os «operários avançados» russos (correndo o risco de provocar um novo descontentamento ao terrível Trotsky) rir-se-ão na cara destes projetistas. «As resoluções táticas pormenorizadas — dir-lhes-ão eles — são elaboradas entre nós pelos congressos e conferências do partido (não sabemos como se faz entre vós, os sem partido), por exemplo de 1907, 1908, 1910, 1912 e 1913. Daremos a conhecer com satisfação aos estrangeiros não informados, bem como aos russos de fraca memória, as nossas decisões de partido, e com maior satisfação ainda pediremos aos representantes do grupo de sete ou aos 'agostistas' ou aos 'levicistas'[N310], ou ainda a quem quer que seja", que nos deem a conhecer as resoluções dos seus congressos ou conferências, que levem ao seu próximo congresso a questão precisa sobre a atitude para com as nossas resoluções ou para com as resoluções do congresso letão neutral de 1914, etc.»
Eis o que dirão os «operários avançados» da Rússia aos diversos projetistas, eis o que já disseram, por exemplo, na imprensa marxista, os marxistas organizados de Petersburgo. Quererá Trotsky ignorar estas condições publicadas para os liquidacionistas? Tanto pior para Trotsky. O nosso dever é advertir os leitores de como é ridículo o projetismo «unificador» (do tipo da «unificação» de Agosto?), que não quer ter em conta a vontade da maioria dos operários conscientes da Rússia.
V. As Concepções Liquidacionistas de Trotsky
Trotsky procurou falar o mínimo possível na sua nova revista quanto ao fundo das suas concepções. O Put Právdi (n.° 37) já assinalou que Trotsky não disse uma palavra sequer nem sobre a questão da clandestinidade nem sobre a palavra de ordem de luta por um partido legal, etc.(4) Eis porque, entre outras coisas, neste caso nós falamos do pior fracionismo, quando uma organização separada quer surgir sem qualquer fisionomia ideológico-política.
Mas se Trotsky não quis expor diretamente as suas concepções, uma série de passagens da sua revista mostra que ideias ele põe em prática pela calada e às escondidas.
Lemos logo no primeiro artigo de fundo do primeiro número:
«A social-democracia de antes da revolução era entre nós um partido operário somente pelas suas ideias e pelos seus objetivos. Na realidade ela representava em si a organização da intelectualidade marxista, que levava atrás de si a classe operária que despertava».
Esta é uma cantilena liberal e liquidacionistas há muito conhecida, que serve de fato de introdução à negação do partido. Esta cantilena baseia-se na deturpação dos fatos históricos. Já as greves de 1895-1896 criaram um movimento operário de massas, ligado tanto ideológica como organicamente à social-democracia. E também nestas greves, na agitação económica e não económica, «a intelectualidade levava atrás de si a classe operária»!!? Ou então eis os dados exatos sobre os crimes contra o Estado nos anos de 1901-1903 em comparação com a época anterior: Por cada 100 participantes no movimento libertador (processados por crimes contra o Estado), o número de pessoas por profissões era:
Época | Na agricultura | Na indústria e comércio | Profissões liberais e estudantes | Ocupações indeterminadas e sem ocupação |
1884-1890 | 7,1 | 15,1 | 53,3 | 19,9 |
1901-1903 | 9,0 | 46,1 | 28,7 | 8,0 |
Vemos que nos anos 80, quando não existia ainda partido social-democrata na Rússia, quando o movimento era «populista», predominava a intelectualidade: ela dá mais de metade dos participantes.
Este quadro muda por completo nos anos de 1901-1903, quando já existia o partido social-democrata, quando realizava o seu trabalho o velho Iskra, A intelectualidade já está em minoria entre os participantes no movimento, os operários («indústria e comércio») são já muito mais do que os intelectuais, e os operários e camponeses em conjunto são mais de metade do número total. Foi precisamente na luta de correntes dentro do marxismo que se manifestou a ala intelectual-pequeno-burguesa da social-democracia, começando pelo «economismo» (1895-1903), continuando com o «menchevismo» (1903-1908) e o «liquidacionismo» (1908-1914). Trotsky repete as calúnias liquidacionistas contra o partido, temendo referir-se à história de vinte anos de luta de correntes dentro do partido.
Eis outro exemplo:
«Na sua atitude para com o parlamentarismo, a social-democracia russa passou pelos mesmos três estádios... (como noutros países)... primeiro o 'boicotismo'... depois o reconhecimento de princípio da tática parlamentar, mas...» (magnífico 'mas', o mesmo 'mas' que Chtchedrine traduziu com a frase: as orelhas não crescem mais alto do que a testa, não crescem!) "... com objetivos puramente de agitação... e, por fim, a transferência para a tribuna da Duma... de reivindicações imediatas...» (n.° 1, p. 34).
Novamente uma deturpação liquidacionistas da história. A diferença entre o segundo e o terceiro estádios foi inventada para fazer passar furtivamente o reformismo e o oportunismo. O boicotismo, como estádio na «atitude da social-democracia face ao parlamentarismo» não existiu nem na Europa (ali houve e continua a haver o anarquismo), nem na Rússia, onde o boicote, por exemplo, da Duma de Bulíguine se referia somente a determinada instituição, nunca se relacionando com o «parlamentarismo», e foi fruto da luta peculiar do liberalismo e do marxismo pela continuação da arremetida. De como esta luta se refletiu na luta das duas correntes dentro do marxismo, Trotsky nem abre a boca!
Se se aborda a história, há que explicar as questões concretas e as raízes de classe das diversas correntes; quem desejar estudar de modo marxista a luta de classes e a luta de correntes pela participação na Duma de Bulíguine verá aí as raízes da política operária liberal. Mas Trotsky «aborda» a história para fugir às questões concretas e inventar uma justificação ou um simulacro de justificação para os oportunistas atuais!
"... De facto todas as correntes — escreve ele — empregam um e o mesmo método de luta e de construção». — "Os gritos sobre o perigo liberal no nosso movimento operário são simplesmente uma grosseira caricatura sectária da realidade» (n.° 1, pp. 5 e 35).
Esta é uma defesa muito clara dos liquidacionistas e muito irritada. Mas nós permitir-nos-emos, no entanto, tomar pelo menos um pequeno fato dos mais recentes — Trotsky lança apenas frases, nós gostaríamos que os próprios operários meditassem neste fato. O fato é que o Sèvernaia Rabótchaia Gazeta escrevia no seu número de 13 de Março:
«Em vez de se sublinhar a tarefa precisa, concreta, que a classe operária tem diante de si — obrigar a Duma a rejeitar o projeto de lei (sobre a imprensa), propõe-se uma vaga fórmula de luta por 'palavras de ordem não truncadas', paralelamente com a publicidade da imprensa ilegal, o que só pode debilitar a luta dos operários pela sua imprensa legal."
Eis a defesa documental, clara e precisa da política liquidacionistas e a crítica da pravdista. Pois bem, haverá uma pessoa que saiba ler e escrever que diga que ambas as correntes empregam nesta questão «um e o mesmo método de luta e de construção»? Haverá uma pessoa que saiba ler e escrever que diga que os liquidacionistas não aplicam aqui uma política operária liberal? que o perigo liberal no movimento operário é aqui uma invenção?
Trotsky evita os fatos e as referências concretas porque eles desmentem implacavelmente todas as suas irritadas exclamações e frases pomposas. Evidentemente que dar-se ares e dizer «grosseira caricatura sectária» é muito fácil. Acrescentar umas palavrinhas ainda mais mordazes, ainda mais pomposas, sobre a «emancipação em relação ao fracionismo conservador» também não é difícil.
Mas não será isto demasiado barato? Não sairá esta arma do arsenal da época em que Trotsky brilhava perante os estudantes liceais? Os «operários avançados», com os quais Trotsky se irrita, quererão no entanto que se lhes diga direta e claramente: aprovais o «método de luta e de construção» que está expresso com exatidão na citada avaliação da campanha política concreta? sim ou não? se sim, então isso é política operária liberal, isso é traição ao marxismo e ao partido, e falar de «paz» ou de «unidade» com tal política, com grupos que a aplicam, significa enganar-se a si próprio e aos outros. Não? — então dizei-o explicitamente. Porque o operário atual não se surpreende, não se satisfaz e não se assusta com frases. Diga-se de passagem: a política pregada pelos liquidacionistas na passagem citada é estúpida mesmo do ponto de vista liberal, pois a aprovação de uma lei na Duma depende dos «zemtsi-outubristas» do tipo de Bennigsen, que já mostrou as suas cartas à comissão.
* * *
Os velhos participantes no movimento marxista na Rússia conhecem bem a figura de Trotsky, e não vale a pena falar-lhes dela. Mas a jovem geração operária não a conhece, e é necessário falar, pois trata-se de uma figura típica de todos os cinco grupinhos no estrangeiro, que de fato também vacilam entre os liquidacionistas e o partido.
Nos tempos do velho Iskra (1901-1903), para esses vacilantes e trânsfugas que passavam dos «economistas» para os «iskristas» e vice-versa, havia uma alcunha: «trânsfugas de Túchino» (assim chamavam na Época da Confusão311 na Rússia aos guerreiros que fugiam de um campo para o outro).
Quando falamos de liquidacionismo, designamos certa corrente ideológica, que foi crescendo com os anos, e ligada pelas raízes ao «menchevismo» e ao «economismo» em vinte anos de história do marxismo, ligada à política e à ideologia de determinada classe, a burguesia liberal. Os «trânsfugas de Túchino» declaram-se acima das frações com base na única razão de que eles «tomam de empréstimo» as ideias hoje de uma fração e amanhã de outra. Trotsky era um «iskrista» apaixonado nos anos de 1901-1903, e Riazánov chamou ao seu papel no congresso de 1903 papel de «cacete leninista». Nos fins de 1903 Trotsky era um menchevique apaixonado, isto é, dos iskristas passou para os «economistas»; proclama que «entre o velho e o novo Iskra há um abismo». Nos anos de 1904-1905 afasta-se dos mencheviques e ocupa uma posição vacilante, ora colaborando com Martínov («economista») ora proclamando a «revolução permanente» de um esquerdismo absurdo. Em 1906-1907 aproxima-se dos bolcheviques e na Primavera de 1907 declara-se solidário com Rosa Luxemburgo. Na época da desagregação, após longas vacilações «não fracionistas», vai de novo para a direita e em Agosto de 1912 entra num bloco com os liquidacionistas. Agora de novo afasta-se deles, mas entretanto repete no fundo as suas mesmas ideiazinhas. Tais tipos são característicos como restos das formações históricas de ontem, quando o movimento operário de massas na Rússia ainda dormia e qualquer grupinho «estava à vontade» para se apresentar a si próprio como corrente, grupo, fração — numa palavra, uma «potência» que fala de unificação com outros.
É preciso que a jovem geração operária saiba bem com quem trata, quando apresentam incríveis pretensões pessoas que não querem ter em conta de modo algum nem as decisões do partido, que desde 1908 determinaram e estabeleceram a atitude para com o liquidacionismo, nem a experiência do movimento operário atual na Rússia, que criou de fato a unidade da maioria na base do pleno reconhecimento das citadas decisões. Assinado: V. lline
Fonte: marxist.org
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Notas de rodapé: (3) Ver V. I. Lênin, Obras Completas, 5." ed. em russo, t. 25, pp. 1- 4. (N. Ed.) (4) Ver V. I. Lênin, Obras Completas, 5.a ed. em russo, t. 25, pp. 1-4.(N. Ed.) Notas de fim de tomo: [N309] Lênin refere-se à conferência do CC do POSDR com os funcionários do partido (devido às condições de clandestinidade, a conferência foi denominada conferência de Verão). A conferência efetuou-se de 23 de Setembro a 1 de Outubro (6-14 de Outubro) de 1913 na aldeia de Porónine (perto de Cracóvia), onde na altura vivia V. I. Lênin. Uma das questões fundamentais debatidas na conferência foi a questão nacional, que se destacava então entre outras questões da vida social da Rússia. O relatório respeitante à questão nacional foi apresentado por Lênin. A conferência, baseando-se no programa do partido, rejeitou decididamente a exigência oportunista dos mencheviques e bundistas de «autonomia cultural nacional» e aprovou as teses programáticas elaboradas por Lênin sobre a questão nacional. A conferência aprovou a resolução de incluir na agenda do próximo congresso a questão do programa nacional.
Na resolução sobre a fracção social-democrata na Duma, a conferência exigiu a igualdade de direitos das partes bolchevique e menchevique da fracção e condenou resolutamente as ações da parte menchevique da fracção que, aproveitando-se da maioria casual de um só voto, infringia os direitos elementares dos deputados bolcheviques, os quais representavam uma maioria esmagadora dos operários da Rússia. Por indicação de Lênin e do CC do partido dos bolcheviques, os deputados bolcheviques saíram da fracção social-democrata unida em Outubro de 1913 e formaram uma fracção independente dos bolcheviques na Duma de Estado, «fração operária social-democrata da Rússia».
No relatório referente ao congresso socialista internacional a ser realizado em 1914 em Viena, Lênin propunha que fossem enviados ao congresso o maior número possível de delegados das organizações clandestinas e legais, planeando realizar, simultaneamente com esse congresso, também o congresso do partido.
A conferência terminou com o discurso de encerramento de Lênin. Dada a importância das questões debatidas e das decisões tomadas quanto a estas, a Conferência de Porónine teve o significado duma conferência do partido. [N310] Lewicistas: membros do PPS-lewica (ler levitsa), partido operário polaco formado em 1906, em consequência da cisão que se verificou no seio do Partido Socialista Polaco, um partido reformista e nacionalista que fora criado em 1892.
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