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Vencer as Torturas é Dever de Todo Revolucionário

Atualizado: 3 de jan. de 2023

Manoel Lisboa

1972

A ditadura militar brasileira necessita do terror policial como o peixe necessita da água. Ela surgiu no nosso cenário histórico, justamente para impor o terror. Era preciso proteger os interesses do capital estrangeiro, da alta-burguesia nacional e dos latifundiários, ameaçados pela relativa liberdade existente no governo João Goulart. Tal liberdade facilitava o esclarecimento e a organização do povo pelas forças revolucionárias. Esse esclarecimento e essa organização desembocariam, mais cedo ou mais tarde, numa rebelião total contra a dominação imperialista em nosso país. Para esmagá-la no nascedouro, a Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos revolveu o museu de nossa história, lá encontrando os agentes indicados, os generais mais fascistas, mais fiéis aos monopólios norte-americanos e seus aliados nacionais. Para cumprir sua missão, sabiam e sabem os generais, era indispensável prolongar a secular miséria de nosso povo, desde que a melhoria das condições de vida do mesmo é incompatível com a dominação de nossa economia pelos monopólios estrangeiros e a estrutura agrária, em que predomina o latifúndio. Sabiam e sabem os generais que sua missão se constituía na mais vergonhosa traição, no mais terrível crime contra o povo. No entanto, aceitaram, e cumprem com perfeição o papel de fiéis lacaios do imperialismo ianque. Para eles, nada mais honroso que os dólares recebidos e os elogios de Nixon ao "milagre brasileiro".


Da noite para o dia, o Brasil se transformou no reino do capital estrangeiro. Empresas ianques, alemãs, japonesas, inglesas, francesas, etc. investem no Brasil, pois aqui está garantida a expansão dos seus lucros. Os generais brasileiros, chibata em punho, protegem o capital estrangeiro contra os "altos salários", as greves e outros atropelos, mesmo que isso resulte em mais fome, mais desemprego, mais doenças para os trabalhadores.


Para ocultar seus crimes contra o povo, os militares montaram a mais poderosa máquina de propaganda da história brasileira. A cada instante, ela vomita mentiras e procura explorar cinicamente o amor das massas pelos esportes e pelas festas. Tudo isso, para impedir que o povo compreenda a causa real de seus sofrimentos; no entanto, por maior que seja a propaganda, sabem os generais ser impossível esconder indefinidamente a verdade. É absurdo tentar convencer um homem a amar "uma pátria" que lhe mata de fome. Faça o que fizerem os generais, jamais conseguirão transformar o povo num rebanho de mansos carneiros dispostos ao sacrifício.

O povo brasileiro, estes milhões de explorados, nunca esteve satisfeito com sua miséria. Resta-lhe apenas entender claramente quem são os responsáveis por essa miséria. É aí onde reside o imenso papel da vanguarda revolucionária. Essa vanguarda é o destacamento organizado, consciente, da classe operária. Sua missão histórica consiste em ligar-se às massas oprimidas e dirigi-las para a conquista do poder. Sem a ação da vanguarda, sem a direção de um Partido Comunista Revolucionário, a revolta do povo será sempre cega e inconsequente. Compreendendo a importância da vanguarda no processo revolucionário, a ditadura militar, assistida e apoiada pelos patrões ianques, resolveu aniquilar todos os grupos que atuam como vanguarda. Além das prisões em massa, os carrascos da ditadura torturam e matam todos aqueles que não aceitam sua dominação e lutam contra ela. A ordem é esmagar totalmente as forças revolucionárias, para impedir seu trabalho de esclarecimento junto ao povo. Nessa tentativa, os militares têm uma arma poderosíssima, considerada, inclusive, por muitos "revolucionários" como infalível: A TORTURA, física e psicológica. Graças à tortura, os militares conseguiram grandes vitórias no seu intento de aniquilar as forças revolucionárias. Grande parte dos grupos revolucionários foi profundamente atingida pela repressão, causando o desbaratamento de suas organizações e gerando profundo ceticismo quanto às possibilidades de enfrentar vitoriosamente a ditadura. É que uma parte bastante significativa dos revolucionários presos não conseguiu comportar-se com firmeza diante dos torturadores, delatando seus companheiros e abrindo para a polícia os esquemas revolucionários. Aliada ao liberalismo em questões de segurança, a DELAÇÃO tem sido a causa principal dos profundos golpes que ameaçam destruir totalmente grande parte dos grupos revolucionários brasileiros. Por que a delação? Por dois motivos:


  1. — pela falta de maior preparação ideológica dos militantes presos;

  2. — pela tese oportunista, bastante difundida em alguns grupos, de que "existe um ponto máximo, além do qual ninguém pode resistir às torturas".


Consideramos de importância capital, afastar a delação como regra do comportamento revolucionário ante as torturas. Caso contrário, assinaremos o atestado de óbito do movimento revolucionário brasileiro, desde que a ditadura jamais abandonará as torturas e consequentemente o processo de desbaratamento das forças revolucionárias conduzirá à sua total destruição e desmoralização. É inadiável adquirir uma postura correta diante de todas as armas utilizadas pelo fascismo. Nossa prática tem confirmado que o militante revolucionário tem obrigação de não delatar, de nada informar aos carrascos policiais, que possa ajudá-los a golpear a revolução. Para tanto, é essencial que o militante esteja armado com uma compreensão científica da revolução, com a convicção de seu papel de instrumento consciente de um processo inevitável, o que lhe dará a certeza de que a delação, a traição, é um mal muito maior que a morte. O revolucionário consciente é capaz de vencer qualquer obstáculo; não há "ponto máximo" de tortura capaz de quebrar sua dignidade de combatente da mais justa das causas — a libertação do homem. Marx afirma que a teoria se transforma em força material quando se apossa das massas. A teoria revolucionária também se transforma em poderosa força material quando se apossa do combatente da causa proletária, uma força tão potente que faz tremer, ante um homem indefeso, as feras do fascismo sedentas de sangue. A causa revolucionária gera nos seus militantes uma resistência que termina apenas com a morte. Devemos e podemos resistir a qualquer tortura. O movimento revolucionário está cheio de exemplos que comprovam nossa tese. A opinião oportunista a respeito "do ponto máximo" é um contrabando ideológico trazido para o seio do movimento revolucionário pela pequena-burguesia, historicamente vacilante e covarde. Devemos repeli-la, juntamente com todos os vícios pequeno-burgueses como o liberalismo, o amoralismo e outros que tanto têm contribuído para o enfraquecimento da revolução brasileira. Nossa grande tarefa histórica, no momento, é forjar um Partido Revolucionário da Classe Operária, um destacamento consciente, organizado, de vanguarda, capaz de se ligar ao povo e conduzi-lo para a libertação definitiva. Para cumpri-la, temos de ser "homens de uma têmpera especial", incapazes de se dobrar diante do látego, sejam quais forem às circunstâncias, incapazes de delatar, trair. Se assim agirmos, dentro de algum tempo, a ditadura fascista demonstrará como é frágil sua estrutura ante o povo organizado, rebelado, decidido a construir de vez o caminho da felicidade. Que, sejam quais forem as condições, fique gravado no espírito de cada um que DELAÇÃO É TRAIÇÃO; que ao homem digno, honesto, nada é mais terrível que servir ao "lobo com rosto de homem", o capitalismo e seus lacaios fascistas. Para eles, somente nosso ódio, nossa certeza inquebrantável no amanhã livre, todas as nossas energias e, se preciso, a última gota de nosso sangue para que nasça o amanhã.


 

Quem foi Manoel Lisboa?

1944-1973

Manoel nasceu a 21 de fevereiro de 1944, em Maceió, Brasil. Desde seus tempos de escola demonstrou um interesse particular pelos problemas sociais, o que o fez se integrar, ainda bem jovem, ao movimento estudantil alagoano. Como secundarista, participou do Conselho Estudantil do Colégio Estadual de Alagoas.

Foi editor do jornal "A Luta", de circulação clandestina, que visava mobilizar a luta de combate à ditadura militar, e defender as liberdades democráticas propiciando a construção de uma sociedade livre e justa. Mais tarde, quando cursava medicina, teve que se afastar do curso por motivos de perseguição política.

Foi um dos principais dirigentes do PCR - Partido Comunista Revolucionário, fundado em 1966, e sua atuação esteve sempre voltada para a organização dos camponeses e das classes mais oprimidas.

Em 16 de agosto de 1973, Manoel foi preso numa ação repressiva da Ditadura Militar sob o comando dos policiais Luis Miranda e Sérgio Paranhos Fleury. A partir de então, foi submetido a toda sorte de torturas tanto físicas como psicológicas. Despido, foi pendurado no "pau-de-arara", espancado no rosto, nos testículos, no abdome. Recebeu choques elétricos no pênis, nas mãos, nos pés e nas orelhas. Foi queimado a vela em todo o corpo, perdendo, logo nos primeiros dias, a sensibilidade dos membros inferiores. Os seus algozes queriam informações sobre a organização, a infraestrutura e a localização dos militantes. Manoel não deu nenhuma informação mesmo conhecendo bem os segredos do Partido que fundara.

Passou 19 dias sob tortura intensa. Ficou com o corpo cheio de queimaduras, semiparalítico.

Aos companheiros da prisão, pressentindo que seria assassinado, falou: " Sei que a minha hora chegou; fiz o que pude; a vocês peço apenas que continuem o trabalho do Partido".

Foi assassinado em 04 de setembro de 1973 e enterrado como desconhecido no Cemitério do Campo Grande, em São Paulo. Ao seu lado, também foi enterrado seu companheiro de Partido, Emanuel Bezerra dos Santos (1945-1973) que posteriormente, foi identificado e sepultado em 1992, dignamente, na sua cidade natal, São Bento do Norte (RN). Foi traslado os restos mortais de Manoel Lisboa de Moura, de São Paulo para Recife, quando foi homenageado pela Prefeitura Municipal e em seguida, para Maceió, quando finalmente foi sepultado. Fonte: marxist.org

 

Quer saber mais?

Manoel Lisboa - Herói da Resistência à Ditadura - por Jornal A Verdade

Por meio de entrevistas inéditas, com várias personalidades, o documentário narra a vida e luta de Manoel Lisboa, fundador e principal dirigente do Partido Comunista Revolucionário (PCR). Protagonista da resistência à ditadura e da luta pelo socialismo, exemplo de conduta revolucionária em todos os dias de sua militância, inclusive, nos seus últimos 18 dias, sob cruéis torturas, sem nada informar aos torturadores. O documentário é de Carlos Pronzato, cineasta argentino radicado no Brasil, autor de dezenas de dezenas de documentários, entre os quais sobre Che Guevara, Carlos Mariguela e "Escola toma Partido".

Manoel Lisboa de Moura - por PCR: http://pcrbrasil.org/manoel-lisboa/

“Manoel é exemplo de um verdadeiro revolucionário, que não vacilava em colocar os interesses de seu povo e da revolução acima dos interesses pessoais. Homens como Manoel são os que fazem a diferença, e como, disse Brecht, são os imprescindíveis. É um orgulho e uma honra para todo comunista ser membro do PCR, o Partido fundado por Manoel Lisboa”.

Luiz Falcão, diretor do Jornal A Verdade e membro do Comitê Central do PCR



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